Lemos, em Mateus 6.25-34, o ensino bíblico com
respeito a excessiva preocupação dos homens com bens materiais - até
necessários, em detrimento da boa ordem divina. Jesus expõe nessa narrativa, o
conflito causado pela ansiedade por ter esses bens (comida e roupas), e a
necessária primazia da busca, em primeiro lugar, de Deus, Seu reino e Sua
justiça. Olhando atentamente as palavras de Jesus, qual a ordem correta de
prioridades para nossa existência aqui nessa vida terrena; a preeminência dos
bens e prazeres materiais, ou o reino de Deus e Sua justiça? O reino daqui,
exposto as contingências de nossa vida passageira, ou o reino eterno de Deus,
Sua justiça e vontade em primeiro lugar, esse reino glorioso que se manifestará
na volta do Rei dos reis, o Salvador e Senhor Jesus Cristo?
Paul David Tripp, no seu livro [1]Perdido no Meio, nos adverte do perigo
dessa inversão da boa ordem divina. No capítulo 3 – A Morte da Invencibilidade, no ponto intitulado A Grande Substituição, páginas 110 a 112,
lemos:
“Como a Escritura nos ajuda a entender tanto a
natureza quanto o poder das lutas da meia-idade? A resposta pode ser encontrada
em uma sentença bastante simples, ainda que profunda, em Romanos 1. Essa
sentença provê não somente um insight interessante sobre a motivação humana
desse lado da eternidade. Romanos 1.25 diz: “eles mudaram a verdade de Deus em
mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito
eternamente. Amém! ” Por causa da linguagem de adoração dessa passagem, é
possível perder quão amplamente aplicável é essa ideia. Há mais sendo dito aqui
do que o fato de que temos a tendência de servir a um catálogo completo de
substitutos de Deus. Sim, todos nós tendemos a ter essa inércia para longe do
Criador e em direção à criação, mas algo mais está sendo dito aqui. Romanos
1.25 nos alerta para o fato de que há uma propensão inata em cada ser humano de
substituir o espiritual pelo físico. Nós todos fazemos isso de várias
formas. A verdade é que a vida somente pode ser achada no Criador. Ainda assim,
nós tentamos encontrar vida em coisas materiais, no amor de outras pessoas, na
segurança, na situação física ou localização ou no prazer experimentado
fisicamente ou no conforto. Idolatria, em sua forma mais simples, é quando
substituo a adoração de Deus por alguma imagem física ou objeto que eu possa
tocar. A razão pela qual isso é uma tentação tão grande e óbvia. O ídolo pode
ser visto, tocado ou de alguma forma experimentado fisicamente. Eu posso sentar
em casa bem grande, olhar ao redor e dizer, “Que vida boa eu tenho! ” Eu posso
sentir os lábios de alguém que me ama tocarem a minha bochecha. Eu posso ouvir
aplausos humanos ou glória na beleza de um determinado lugar, eu posso reviver
o conforto físico de uma refeição maravilhosa ou o prazer físico de uma relação
sexual agradável. Uma certa pessoa física, com uma voz real, pode elogiar a
minha aparência ou o meu trabalho. Não é difícil entender quão tentador é
substituir o espiritual pelo físico. Se o pecado nos coloca em uma trajetória
para longe do Criador e em direção à criação, então, ele também nos empurra
para longe do espiritual e perto do físico. Assim a aparência vai triunfar
sobre o caráter. O prazer pessoal vai triunfar sobre a pureza de coração. O amor
de uma pessoa vai triunfar sobre o amor de Deus. Coisas materiais vão triunfar
sobre realidades espirituais. Segurança de situação e localização vão triunfar
sobre segurança no Senhor. O prazer físico vai triunfar sobre a satisfação da
alma. O presente vai triunfar sobre a eternidade. Essa inversão do que era para
ser está em todos os lugares à nossa volta. É um dos principais perigos da vida
em um mundo caído. ”
[1]
Tripp, Paul David, 1950- Perdido no meio: a crise da meia-idade e a graça de
Deus / Paul David Tripp ; [tradução: João Paulo Tomas de Aquino]. – São José
dos Campos, SP : Fiel, 2016.