domingo, 18 de novembro de 2012

Amando a Deus Quando Honramos Nosso Próximo


[1]Texto: Dia do Senhor 43
[2]Leitura: Êxodo 20.16

Amada congregação do Senhor Jesus Cristo,

Vivemos tempos quando o dinheiro, o sucesso, o poder, parecem valer mais que o bom nome, a boa fama. Estamos nos tempos dos superstar que morrem de overdose e se prostituem nos seus palcos. Temos do mensalão. Quando vemos homens de alta posição, jogando nome deles na lama por causa de dinheiro, ou, de um projeto de poder.
Mas, a sabedoria que vem de Deus diz (Provérbios 22.1): “Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro”. Possa ser que você não seja milionário, tenha prata e ouro. Mas, você tem algo que vale mais do que muitas riquezas, do que muito poder.
Que bem tão valioso é esse?
O bom nome, a boa fama, a boa reputação – diz o SENHOR.
Deus coloca a honra como um bem valiosíssimo. Um bem que vale mais que prata e ouro. A boa fama vale mais que muito poder.
No Nono mandamento Deus ordena preservarmos esse valioso bem, a honra. Por isso Ele ordena: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. Assim, Deus exige que não roubemos a honra de nosso próximo. A mensagem de Deus para nós hoje é:

Deus quer mostremos amor a Ele, amando a honra de nosso próximo.

João Calvino disse em certo lugar algo muito instrutivo sobre o Nono Mandamento. Ele fez uma comparação entre o Oitavo e o Nono Mandamento. O reformador disse que o oitavo mandamento amarra as nossas mãos. Para quê? Para não defraudarmos o bem de nosso próximo. Enquanto, o Nono Mandamento, diz Calvino, amarra outro órgão de nosso corpo. Que órgão é esse? A língua. A língua que tem o poder de prejudicar ou roubar a integridade de nosso próximo. Atacar e roubar o bem mais precioso de nosso próximo. A boa fama, a boa reputação. Isso é pura verdade! Com a nossa língua podemos prejudicar e roubar a honra de nossos próximos, destruir o bom nome, a boa reputação deles.
A língua é uma arma destruidora! Você já pensou, por exemplo, no poder do falso testemunho? No tempo do Antigo Testamento, se alguém quisesse acabar com a honra, ou, até com a vida de um inimigo, então, era somente necessário contratar falsas testemunhas.
As falsas testemunhas mentiriam diante do juiz e o inocente seria culpado. Lembre-se do exemplo das falsas testemunhas que Jezabel contratou para que Nabote fosse morto. Lembre-se das falsas testemunhas contratadas contra Jesus. Lembre-se das falsas testemunhas que se levantaram contra Estevão. Essas falsas testemunhas acabaram com a honra e a vida de inocentes.
O falso testemunho é proibido pelo SENHOR. Em Levítico 19.18 Ele disse: “Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; não atentarás contra a vida do teu próximo. Eu sou o SENHOR.” O “mexeriqueiro” pode ser o fofoqueiro, pode ser o leva-e-traz. Mas, falando mais especificamente, refere-se aqui a falsa testemunho. Pois, é a falsa testemunha que atenta contra a vida do próximo. A falsa testemunha mata o próximo, mas com uma faca. A língua é arma morta da falsa testemunha. Esse mandamento em Levítico 19.18 tem a base no Nono Mandamento.
Agora, por que O SENHOR Deus abomina o falso testemunho?
Porque Deus é verdade. Em Deus não existe mentira. Ele abomina a mentira.
Mas o que tem a ver mentira e falso testemunho?
A natureza do falso testemunho é mentira, é falsidade.
A palavra hebraica traduzida como “falso” vem de um verbo que descreve a ação de “enganar”, de “mentir”. Essa palavra hebraica é traduzida em outras partes da Escritura como mentira, falsidade, engano, embuste, engodo, fraude. O falso testemunho é um ataque a natureza de Deus, porque a natureza do falso testemunho é mentira, é falsidade.
O nosso Catecismo expressa o ensino da Escritura quando nos diz o que Deus exige no Nono Mandamento (veja o DS 43). O Catecismo diz o que não devo fazer:
O primeiro parágrafo diz: levantar falso testemunho contra ninguém. Não devo distorcer as palavras de ninguém, ou seja, dar um sentido diferente daquilo que ouvi ou li do meu próximo. Veja que o termo “ninguém” é enfatizado. Sabe que isso significa? Não devo usar minha língua para acabar nem com os meus inimigos.
Outra coisa que Deus proíbe: A maldita da fofoca e da difamação. Os fofoqueiros e difamadores devem ser tratados como assassinos e ladrões. A fofoca e difamação matam ou roubam a honra do próximo. Vemos dentro da igreja famílias inteiras, irmãos e irmãs, velhos e jovens, tendo suas honras roubadas ou prejudicadas pela fofoca e difamação.
O Catecismo também ensina que: “Não devo condenar e nem me ajuntar com ninguém para condenar ninguém precipitadamente e sem o ter ouvido”. Somos tentados a condenar e nos juntar com outros para condenar apressadamente o nosso próximo. Não nos preocupamos em nem ouvir a defesa do nosso próximo. Nós devemos prestar atenção a instrução da Palavra de Deus. Devo parar e pensar: por quê penso isso de fulano? O que levou a fazer aquilo? Vou buscar fulano para ouvir dele as suas motivações, etc? Devo observar o que o Espírito Santo diz em Tg 1.19: “Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar”. Esse preceito nos ajudará a cumprir parte do nosso dever quanto ao Nono mandamento. Não devo julgar o meu próximo precipitada e injustamente.
Agora, o Catecismo diz também o que devo fazer (veja o segundo parágrafo da R 112). Primeiro devo: Repudiar (odiar) toda mentira e engano. Por que devo repudiar mentira e engano? Por que são obras próprias do diabo.
O diabo é o Pai da mentira. A mentira se originou no diabo. Ele foi o primeiro mentiroso. Suas mentiras corrompeu os anjos caídos. A mentira dele enganou Eva. Por isso, quem gosta de mentir, de enganar, de malícia, engano, de fraude que prejudica o próximo é filho do diabo (João 8.44).
A mentira e o engano traz a maldição de Deus sobre mim, pois está escrito (Levítico 19.11,12): “Não furtareis, nem mentireis (adulação), nem usareis de falsidade (mesma palavra do mandamento) cada um com o seu próximo; nem jurareis falso (cometer perjúrio – falso é a mesma palavra do mandamento) pelo meu nome, pois profanareis o nome do vosso Deus. Eu sou o SENHOR”. Praticar perjúrio é profanar o nome de Deus. O nome de Deus representa a pessoa santa e verdadeira de Deus. Quem dá falso testemunho pratica perjúrio. Usa o nome de Deus em vão. Por isso, nosso catecismo diz que: “devo repudiar toda mentira e engano ... para não trazer sobre mim a pesada ira de Deus”. Os mentirosos não tem parte no reino de Cristo se não se arrependerem (Apocalipse 21.8).
A natureza maligna do falso testemunho leva os filhos de Deus banir a mentira dos relacionamentos deles. O apóstolo Paulo, usando Levítico 19.11,12, disse (leia Efésios 4.25): “Por isso, deixando a mentira (palavra usada no Nono Mandamento em grego), fale cada um a verdade com seu próximo, porque somos membros uns dos outros”. Você pode ver uma das consequências da nova vida em Cristo? Passamos a falar a verdade, em amor, abandonando todo tipo de mentira nos nossos relacionamentos fora, mas, especialmente, dentro da igreja.
O Catecismo encerra dizendo o que devo fazer: “No tribunal ou em qualquer outro lugar devo amar a verdade, dizê-la e confessa-la com honestidade e fazer tudo o que puder para defender e promover a honra e a reputação do meu próximo”. Na frente das autoridades e em todo lugar devo amar a verdade, dizê-la e confessá-la.
Porém, um detalhes importantes são ressaltados aqui nessa última parte do Catecismo. Devo amar a verdade. Deus é verdade. Então, tudo que é verdadeiro devo amar. Devo dizer a verdade e confessá-la. Deus é verdade e minha boca ama falar e confessar a verdade. Mas, um detalhe: devo amar a verdade, dizê-la e confessá-la com honestidade. O que significa isso?
A verdade não pode ser usada com sentimentos desonestos. Posso falar a verdade para prejudicar a honra do meu próximo. Isso não vale. É quebra do Nono Mandamento. Se a verdade é dita para denigrir o meu próximo, então, ela é tão ruim quando a difamação. Por isso, o Catecismo diz que devo dizer a verdade e “confessá-la com honestidade e fazer tudo o que puder para defender e promover a honra e a reputação do meu próximo”.
Sabe o que isso diz que devo fazer?
Devo parar de usar aquela frase “tão piedosa”: “Gosto da verdade! Por isso, falo isso de fulano, porque é verdade. Não estou mentindo, fulano fez aquele erro mesmo!”. Essa frase muitas vezes, aparentemente piedosa, é usada para atacar e não promover a honra e a boa reputação do meu próximo. Nós, crentes em Cristo Jesus, novas criaturas, devemos fazer tudo o que pudermos para  defenderemos e promovermos a honra e a reputação do meu próximo. Note que isso é um dever pessoal. A verdade deve ser usado para o bem do meu próximo, para a honra do meu próximo ser guardada. Por isso, você pode perceber o cuidado dos oficiais no processo de disciplina. Somente na última parte da disciplina que o nome do pecador rebelde é mencionado. Nesse caso vemos o respeito ao Nono Mandamento também.

Concluindo:

O Catecismo usa o pronome e os verbos na primeira pessoa do singular, por isso, está escrito: “Eu não devo ... eu devo”. Se cada um de nós, nos preocupamos em agradar a Deus observando o Nono Mandamento, então, veremos a bênção de Deus na nossa vida, na nossa igreja e na nossa sociedade. Pois, Deus se agrada quando nós, por amor a Ele e ao próximo, fazemos tudo o que pudermos para  defenderemos e promovermos a honra e a reputação do meu próximo.
Então, o que nos resta fazermos?
Resta-nos buscarmos a graça de Deus em Cristo Jesus. Pois, nossa velha natureza mentirosa, falsa, fofoqueira, difamadora, detratora, enganadora, já foi morta na Cruz junto com Cristo Jesus (Romanos 6). Hoje estamos em Cristo Jesus pela fé verdadeira. Nós temos em Cristo Jesus tudo para lutarmos contra nossa velha natureza, contra nossas fraquezas e pecados contra o Nono Mandamento. Nós não somos mais escravos da mentira e do engano. Não somos mais escravos do Pai da mentira.
O SENHOR Jesus nos libertou da escravidão da mentira e do engano. Ele cumpriu todos os mandamentos para nos salvar. A Escritura diz que dolo algum foi achado em Sua boca. A língua de Jesus estava solta para dar vida e fazer o bem ao próximo. Foi pela boca dele que o amor do Pai foi revelado aos homens. Foi com a boca dEle que Ele nos ensinou o Evangelho da nossa Salvação. Jesus deu a nós sua justiça perfeita através da fé. Assim, a verdade deve reinar em nós. Pois, Jesus é nosso SENHOR. Jesus é a verdade. Jesus disse (João 14.6): “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”.
Nós, que estamos em Cristo pela verdadeira fé, estamos sendo santificados na verdade, ou seja, em Cristo e na Palavra dEle (João 17.17). Nós temos em nós o Espírito da Verdade, o Espírito Santo (João 16.12). Somos novas criaturas. Temos nossas mentes renovadas no Espírito Santo. Nós estamos sendo revestidos do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.(Efésios 4.24).
Então, nós, pela graça de Cristo e em Cristo, temos tudo para santificar nossas línguas e defender e proteger a honra e reputação de nosso próximo. Temos todo o poder de Cristo para amarrar nossa língua com as cordas do amor pela vontade de Deus. Essa vontade de Deus que é bem expressa no Nono Mandamento. O mandamento que nos ensina a amar a honra de Deus e a honra do nosso próximo. Pois, o SENHOR Deus que, nos ama em Cristo, nos libertou na escravidão da mentira e do engano. O nosso Deus e Pai que quer que mostremos amor a Ele, amando a honra de nosso próximo. Amém.

Sermão preparado pelo Rev. Adriano Gama sobre a doutrina ensinada no Catecismo de Heidelberg, Dia do Senhor 43.



[1]
Êxodo 20.16: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.

[2]
Dia do Senhor 43

P.112. O que se exige no nono mandamento?

R. Que eu não devo levantar falso testemunho contra ninguém, nem distorcer as palavras de ninguém, não fazer fofoca nem difamar, não condenar nem me ajuntar com ninguém para condenar a outrem precipitadamente e sem o ter ouvido.1 Antes devo repudiar toda mentira e engano, obras próprias do diabo, para não trazer sobre mim a pesada ira de Deus.2 No tribunal ou em qualquer outro lugar eu devo amar à verdade,3 dizê-la e confessá-la com honestidade e fazer tudo o que puder para defender e promover a honra e a reputação do meu próximo.4
1. Sl 15; Pv 19.5, 9; 21.28; Mt 7.1; Lc 6.37; Rm 1.28-32. 2. Lv 19.11, 12; Pv 12.22; 13.5; Jo 8.44; Ap 21.8. 3. 1Co 13.6; Ef 4.25. 4. 1Pe 3.8, 9; 4.8.

Nenhum comentário:

Postar um comentário