i timoteo
2.11 A mulher deve aprender em silêncio,
com toda a submissão.
2.12 Pois não permito que a mulher
ensine, nem que exerça autoridade sobre o homem, mas esteja em silêncio.
2.13 Porque Adão foi criado primeiro, e
Eva depois.
2.14 E Adão não foi enganado; mas a
mulher é que foi enganada e caiu em transgressão.
[1]Comentário
11. A mulher deve aprender em silêncio, com toda
submissão. Havendo tratado do vestuário, ele agora (o apóstolo
Paulo) passa a falar da modéstia que as mulheres devem demonstrar nas santas
assembléias. E antes de tudo, ele as convida a aprenderem em quietude; pois o termo quietude significa silêncio, para que não presumissem falar em público, idéia que
imediatamente torna mais explicita, proibindo-as de ensinar.
12. Pois não permito que a mulher ensine, nem
exerça autoridade sobre o homem, mas esteja em silêncio. Paulo não está
falando das mulheres em seu dever de instruir sua família; está apenas
excluindo-as do ofício do sacro magistério [a
munere docendi], o qual Deus confiou exclusivamente aos homens. Esse é um
tema que já introduzimos em relação a I Coríntios. Se porventura alguém
desafiar esta disposição, citando o caso de Débora e de outras mulheres sobre
quem lemos que Deus, em determinado tempo, as designou para governar o povo, a
resposta óbvia é que os atos extraordinários de Deus não anulam as regras
ordinárias, às quais ele quer que nos sujeitemos. Por conseguinte, se em
determinado tempo as mulheres exerceram o ofício de profetisas e mestras, e
foram levadas a agir assim pelo Espírito de Deus, Aquele que está acima da lei
pode proceder assim; sendo, porém, um caso extraordinário, não se conflita com
a norma constante e costumeira. Ele prossegue mencionando algo estritamente
relacionado com o ofício do magistério sagrado – nem que exerça autoridade sobre o homem. A razão por que as
mulheres são impedidas de ensinar consiste em que tal coisa não é compatível
com o seu status, que é serem elas
submissas aos homens, quando a função de ensinar subentende autoridade e status
superior. É possível que o argumento não aparente força, visto que, pode-se
objetar, mesmo os profetas e mestres são sujeitos aos reis e aos magistrados.
Minha resposta é que não há absurdo algum no fato de um homem mandar e ser
mandado ao mesmo tempo em relações distintas. Mas isso não se aplica no caso
das mulheres que, por natureza (isto é, pela lei ordinária de Deus), nascem
para a obediência, porquanto todos os homens sábios sempre rejeitaram γυναικοκρατία [gunaikokratia], a saber, o governo feminino,
como sendo uma desnatural monstruosidade. E assim, para uma mulher usurpar o
direito de ensinar seria o mesmo que confundir a terra e o céu. É por isso que
ele lhes ordena a permanecerem dentro dos limites de sua condição feminina.
13. Porque Adão foi criado primeiro, e Eva depois. Ele apresenta
duas razões por que as mulheres devem estar submissas aos homens, a saber:
porque Deus impôs tal condição, como lei, desde o princípio; e também porque
ele a infligiu sobre as mulheres à guisa de punição. Portanto ele ensina que,
mesmo que a raça humana houvera permanecido em sua integridade original, a
verdadeira ordem da natureza prescrita por Deus permaneceria, a saber: que a
mulher seja submissa ao homem. E não vale como objeção dizer que Adão, ao cair
de sua integridade original, privou-se de sua autoridade, pois em meio às
ruínas que resultaram do pecado permanecem alguns resquícios da bênção divina,
porquanto não seria direito que a mulher, por meio de seu pecado,
restabelecesse sua posição. Todavia, o argumento de Paulo, de que a mulher está
sujeita porque ela foi criada por último, não aparenta muita força, pois João
Batista veio antes de Cristo quanto ao tempo, e, no entanto o primeiro era
inferior ao segundo. Paulo, porém, ainda que não explique todas as
circunstâncias relatadas por Moisés em Gênesis, não obstante pretendia que seus
leitores as levassem em conta. O ensino de Moisés consiste em que a mulher foi
criada por último para ser uma espécie de apêndice ao homem, sob a expressa
condição de que ela estivesse disposta a obedecê-lo. Por isso, visto que Deus
não criou duas ‘cabeças’ em igual condição, senão que acrescentou ao homem uma
auxiliadora menor, o apóstolo está certo em lembrar-nos da ordem de sua
criação, na qual a eterna e inviolável determinação divina é claramente
exibida.
14 E Adão não foi enganado. Ele está se referindo à punição infligida sobre a mulher: “Multiplicarei
sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio a dores darás à luz filhos; o
teu desejo será para o teu marido, e ele te governará” [Gn 3.16]. Uma vez que o
conselho que ela dera fora fatal, era justo que ela aprendesse a depender do
poder e da vontade de outrem. Já que ela seduzira o homem a desviar-se do
mandamento de Deus, era justo que se visse privada de toda a sua liberdade e
estivesse sujeita ao jugo. Além do mais, o apóstolo não baseia seu argumento
simplesmente ou meramente na causa da
transgressão, mas na sentença
pronunciada por Deus sobre ela. Não obstante, pode-se concluir que haja
contradição envolvida na afirmação, tanto que a submissão da mulher era o
castigo por sua transgressão, como também que a mesma lhe foi imposta desde a
criação, pois desse fato seguir-se-á que ela foi destinada à servidão mesmo
antes de pecar. Minha resposta é que não há razão para deduzir-se que a
obediência não lhe teria sido uma condição natural desde o princípio, enquanto
que a servidão foi uma última condição resultante de seu pecado, de modo que a
submissão se tornou menos voluntária do que a que tivera antes.
Demais,
alguns têm encontrado nesta passagem justificativa para o ponto de vista de que
Adão não caiu por seu próprio erro, senão que apenas foi vencido pelas
fascinações de sua esposa. Acreditam que somente a mulher foi enganada pela
astúcia da serpente, ao crer que ela e seu esposo seriam como deuses. Mas Adão
não ficou tão persuadido, e provou o fruto só para satisfazer o capricho de sua
esposa. Tal ponto de vista, porém, é fácil de se refutar, porque, se Adão não
houvera crido na mentira de Satanás, Deus não o teria repreendido, dizendo:
“Eis que o homem é como um de nós” [Gn 3.22]. Há outros argumentos que deixo de
mencionar, porque não há necessidade de se fazer extensa refutação de um erro,
quando o mesmo repousa sobre a mera conjectura. Com essas palavras Paulo não
quer dizer que Adão não fora envolvido na mesma ilusão diabólica, senão que a
causa e fonte de sua transgressão vieram de Eva.
[1] Comentário
à Sagrada Escritura – Novo Testamento, por João Calvino. p. 73-76. Editora:
Edições Paracleto. Primeira edição em
português – 1998.
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