sábado, 25 de agosto de 2012

A Mulher - Seu lugar quanto ao ensino e aprendizagem na Igreja 2



i timoteo
2.11 A mulher deve aprender em silêncio, com toda a submissão.
2.12 Pois não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o homem, mas esteja em silêncio.
2.13 Porque Adão foi criado primeiro, e Eva depois.
2.14 E Adão não foi enganado; mas a mulher é que foi enganada e caiu em transgressão.

[1]Comentário
11. A mulher deve aprender em silêncio, com toda submissão. Havendo tratado do vestuário, ele agora (o apóstolo Paulo) passa a falar da modéstia que as mulheres devem demonstrar nas santas assembléias. E antes de tudo, ele as convida a aprenderem em quietude; pois o termo quietude significa silêncio, para que não presumissem falar em público, idéia que imediatamente torna mais explicita, proibindo-as de ensinar.
12. Pois não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade sobre o homem, mas esteja em silêncio. Paulo não está falando das mulheres em seu dever de instruir sua família; está apenas excluindo-as do ofício do sacro magistério [a munere docendi], o qual Deus confiou exclusivamente aos homens. Esse é um tema que já introduzimos em relação a I Coríntios. Se porventura alguém desafiar esta disposição, citando o caso de Débora e de outras mulheres sobre quem lemos que Deus, em determinado tempo, as designou para governar o povo, a resposta óbvia é que os atos extraordinários de Deus não anulam as regras ordinárias, às quais ele quer que nos sujeitemos. Por conseguinte, se em determinado tempo as mulheres exerceram o ofício de profetisas e mestras, e foram levadas a agir assim pelo Espírito de Deus, Aquele que está acima da lei pode proceder assim; sendo, porém, um caso extraordinário, não se conflita com a norma constante e costumeira. Ele prossegue mencionando algo estritamente relacionado com o ofício do magistério sagrado – nem que exerça autoridade sobre o homem. A razão por que as mulheres são impedidas de ensinar consiste em que tal coisa não é compatível com o seu status, que é serem elas submissas aos homens, quando a função de ensinar subentende autoridade e status superior. É possível que o argumento não aparente força, visto que, pode-se objetar, mesmo os profetas e mestres são sujeitos aos reis e aos magistrados. Minha resposta é que não há absurdo algum no fato de um homem mandar e ser mandado ao mesmo tempo em relações distintas. Mas isso não se aplica no caso das mulheres que, por natureza (isto é, pela lei ordinária de Deus), nascem para a obediência, porquanto todos os homens sábios sempre rejeitaram γυναικοκρατία [gunaikokratia], a saber, o governo feminino, como sendo uma desnatural monstruosidade. E assim, para uma mulher usurpar o direito de ensinar seria o mesmo que confundir a terra e o céu. É por isso que ele lhes ordena a permanecerem dentro dos limites de sua condição feminina.
13. Porque Adão foi criado primeiro, e Eva depois. Ele apresenta duas razões por que as mulheres devem estar submissas aos homens, a saber: porque Deus impôs tal condição, como lei, desde o princípio; e também porque ele a infligiu sobre as mulheres à guisa de punição. Portanto ele ensina que, mesmo que a raça humana houvera permanecido em sua integridade original, a verdadeira ordem da natureza prescrita por Deus permaneceria, a saber: que a mulher seja submissa ao homem. E não vale como objeção dizer que Adão, ao cair de sua integridade original, privou-se de sua autoridade, pois em meio às ruínas que resultaram do pecado permanecem alguns resquícios da bênção divina, porquanto não seria direito que a mulher, por meio de seu pecado, restabelecesse sua posição. Todavia, o argumento de Paulo, de que a mulher está sujeita porque ela foi criada por último, não aparenta muita força, pois João Batista veio antes de Cristo quanto ao tempo, e, no entanto o primeiro era inferior ao segundo. Paulo, porém, ainda que não explique todas as circunstâncias relatadas por Moisés em Gênesis, não obstante pretendia que seus leitores as levassem em conta. O ensino de Moisés consiste em que a mulher foi criada por último para ser uma espécie de apêndice ao homem, sob a expressa condição de que ela estivesse disposta a obedecê-lo. Por isso, visto que Deus não criou duas ‘cabeças’ em igual condição, senão que acrescentou ao homem uma auxiliadora menor, o apóstolo está certo em lembrar-nos da ordem de sua criação, na qual a eterna e inviolável determinação divina é claramente exibida.
14 E Adão não foi enganado. Ele está se referindo à punição infligida sobre a mulher: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio a dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará” [Gn 3.16]. Uma vez que o conselho que ela dera fora fatal, era justo que ela aprendesse a depender do poder e da vontade de outrem. Já que ela seduzira o homem a desviar-se do mandamento de Deus, era justo que se visse privada de toda a sua liberdade e estivesse sujeita ao jugo. Além do mais, o apóstolo não baseia seu argumento simplesmente ou meramente na causa da transgressão, mas na sentença pronunciada por Deus sobre ela. Não obstante, pode-se concluir que haja contradição envolvida na afirmação, tanto que a submissão da mulher era o castigo por sua transgressão, como também que a mesma lhe foi imposta desde a criação, pois desse fato seguir-se-á que ela foi destinada à servidão mesmo antes de pecar. Minha resposta é que não há razão para deduzir-se que a obediência não lhe teria sido uma condição natural desde o princípio, enquanto que a servidão foi uma última condição resultante de seu pecado, de modo que a submissão se tornou menos voluntária do que a que tivera antes.
         Demais, alguns têm encontrado nesta passagem justificativa para o ponto de vista de que Adão não caiu por seu próprio erro, senão que apenas foi vencido pelas fascinações de sua esposa. Acreditam que somente a mulher foi enganada pela astúcia da serpente, ao crer que ela e seu esposo seriam como deuses. Mas Adão não ficou tão persuadido, e provou o fruto só para satisfazer o capricho de sua esposa. Tal ponto de vista, porém, é fácil de se refutar, porque, se Adão não houvera crido na mentira de Satanás, Deus não o teria repreendido, dizendo: “Eis que o homem é como um de nós” [Gn 3.22]. Há outros argumentos que deixo de mencionar, porque não há necessidade de se fazer extensa refutação de um erro, quando o mesmo repousa sobre a mera conjectura. Com essas palavras Paulo não quer dizer que Adão não fora envolvido na mesma ilusão diabólica, senão que a causa e fonte de sua transgressão vieram de Eva.  
                  





[1] Comentário à Sagrada Escritura – Novo Testamento, por João Calvino. p. 73-76. Editora: Edições Paracleto.  Primeira edição em português – 1998.

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