quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Mensagem - Reforma Protestante e a Igreja de Hoje


Reforma Protestante e a Igreja de Hoje


Por Kenneth Wieske

     Em 31 de outubro de 1517 o monge Martinho Lutero que era Doutor e Professor na Universidade de Witemberg, na Alemanha, afixou uma lista de 95 teses na porta da Igreja com o propósito de serem analisadas e discutidas. Isso trouxe uma grande reação no mundo eclesiástico da época e deflagrou a Reforma Protestante do século XVI.
    O que foi a Reforma Protestante? O que ela significa? Até os não religiosos têm conhecimento do fato, visto que trouxe grande influência não só na Europa, mas em todo mundo. A Reforma significa que a Igreja passou por uma restauração onde o clímax foi o retorno à Palavra de Deus. Podemos dizer que o ponto alto da Reforma foi o retroceder de uma igreja desviada da Palavra de Deus para os caminhos da verdade. Não foi algo semelhante a uma simples reforma de uma casa. Não foi também uma simples mudança estética ou a introdução de algumas novidades porque a Igreja precisava de coisas mais atuais. Muitos entendem “Igreja reformada, sempre reformando” como a introdução de novidades, inovações, na vida da Igreja. A Reforma foi uma volta à Palavra de Deus. Na essência não somos Luteranos, não temos oficialmente um nome de um homem – Calvinista – apesar da grandeza de Calvino, mas somos Reformados. Por quê? Porque somos a igreja de Cristo, a noiva de Cristo, a Igreja que sempre existiu e existirá. Somos uma Igreja que experimentou o processo de voltar à Palavra de Deus.
      Somos a Igreja Católica que significa universal, a Igreja de Cristo em todo mundo. É uma Igreja que se livrou das doutrinas e acréscimos dos homens e voltou para a Palavra de Deus. Temos vários nomes: Igrejas Presbiterianas, Igrejas Reformadas... As igrejas Presbiterianas vieram da Escócia e Inglaterra, enquanto que as Reformadas vieram da Europa Continental como Holanda, Suíça, etc. As Igrejas Presbiterianas não têm um nome de um homem, como dissemos acima (por exemplo, “calvinistas”), mas este nome foi tirado do seu sistema de governo e isso é até uma confissão de fé. É Presbiteriana porque não é uma Igreja hierárquica, episcopal, papal, onde existe um papa que manda em tudo. A Igreja Presbiteriana é uma Igreja que voltou para a Palavra de Deus; tem a doutrina Reformada, sua Confissão é Reformada e seu sistema de governo é bíblico. As autoridades locais são os presbíteros que governam e não há forte distinção entre pastores e presbíteros, pois todos são presbíteros: os docentes e os regentes. Esta Igreja enfatiza o governo exercido por presbíteros e não por um “papa”. Mas é vergonhoso existirem Igrejas Presbiterianas que não estão praticando o que o nome diz (Presbiterianismo) e estão colocando novamente um tipo de “papa” (um homem só) que está mandando em toda a Igreja.
    Hoje existem muitas Igrejas Presbiterianas liberais, que têm se voltado para uma hierarquia episcopal, papal. Não estão respeitando suas raízes. É claro que existem também Confederações de Igrejas Reformadas que estão desviadas da verdade e são liberais.
     Como era a situação há 500 anos? Era uma situação terrível e triste porque o homem vivia sob o medo; só conseguia ver um Deus irado, enraivecido, que ditava castigos e julgamentos sobre a terra. Já no século XIV houve a peste bubônica que matou dezenas de milhares de pessoas e até o século XVI, milhares de pessoas passaram por muitos sofrimentos, aflições, catástrofes. A igreja se aproveitou disso para ensinar sobre um Deus carrasco que, irado, bradava com o povo exigindo arrependimento. Mas o povo não tinha a Bíblia para entender quem é Deus e como Ele se revela na Sua Palavra. O povo só tinha o que o padre dizia em latim, na missa (um ritual apenas). Isso levou as pessoas a ficarem ignorantes da Palavra e a consequência foi um povo extremamente supersticioso, vivendo numa atmosfera de medo, onde havia muitas referências de ameaças sobre o inferno, purgatório, pecado e a ira grotesca de Deus. As pessoas ficavam tremendo com a visão de um Deus iracundo. Muitas coisas eram vistas como algo demoníaco; viam-se bruxas e vultos em todo lugar. Foi um período de muita superstição e não havia a luz da Palavra de Deus. O Salmo 119 se refere à Palavra como uma luz, e essa luz faltava nessa época. Por isso o povo andava nas trevas, obscurecido, confuso, perdido e triste. Sem essa luz, as pessoas não tinham uma regra de fé e prática; não sabiam como fiscalizar o que os padres nas igrejas estavam dizendo. Os padres, bispos, cardeais e o papa podiam inventar qualquer coisa e afirmar que aquilo era o que Deus dizia. Na época, não era só a Palavra de Deus que era autoridade, mas especialmente a tradição da Igreja (Deus falava através da Igreja). Portanto, qualquer coisa que o Papa imaginasse isso era colocada como doutrina.
     A igreja se aproveitou da situação para roubar o povo. Aproveitou-se do medo para roubar o povo usando como pretexto ensinos como purgatório, inferno, um Deus enraivecido, e, então, os clérigos conclamavam que dessem dinheiro para a Igreja, para Deus, e Ele receberia estas pessoas caridosas. Dessa forma a Igreja conseguiu construir grandes catedrais e os bispos e cardeais ficavam cada vez mais ricos e o povo mais pobre. Foi nesta época que o padre João Tetzel teve uma missão especial. Ele ia por todos os lugares falado “em nome de Deus e do Papa” dizendo: “Venham comprar este pedaço de papel, um documento que garante perdão a todos os seus pecados e, assim, terão acesso ao céu. Além disso, poderão comprá-lo para toda família e para pessoas que até já morreram. Se você gostava muito de seu avô que já morreu, isso poderá livrá-lo do purgatório”. Primeiro ele pregava sobre o purgatório, o inferno e do irmão de alguém que poderia estar sofrendo muito no fogo. Depois ele oferecia este documento chamado de indulgência e num momento, quando a moeda caísse dentro da caixa, a alma dos mortos pularia do purgatório para o céu. Todos queriam comprar este papel de João Tetzel para ter a garantia de que seus pecados e de seus familiares estavam perdoados, inclusive os que já haviam morrido. Assim, depois de receberem o perdão, poderiam viver de qualquer forma, fazendo o que desejavam, porque já haviam comprado o perdão e a salvação.
      Lutero, vendo isso ficou irado, pois tudo era completamente contrário à Palavra de Deus. A Igreja estava tratando o arrependimento com um ato e não como um estilo de vida. Essa diferença é importante. A Bíblia na época era escrita em latim e o povo não tinha acesso a ela. É verdade que os pastores e pregadores sempre precisaram saber as línguas originais. Por isso os pastores reformados, em todo mundo, estudam as línguas originais para evitar basearem seus estudos apenas numa tradução. Em Mateus 4:17, lemos: “Daí por diante passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”. A expressão “arrependei-vos”, na versão latina (latim), é: “fazei penitência”. Então, a Igreja, sem olhar com cuidado o que isso significava, entendia que os filhos de Deus deveriam fazer alguma coisa (penitência) para cobrir seus pecados. Assim, o arrependimento tornava-se um ato. Você peca e depois faz penitência. Ora o Pai Nosso, reza a Ave Maria, dá algum dinheiro, faz caridade ou outras coisas semelhantes. Mas, Lutero tomou a Bíblia no grego, uma obra do erudito Erasmus de Roterdã, e viu que não era “fazei penitência” e sim “arrependei-vos ou convertei-vos”. O verbo não significa um ato de fazer alguma coisa, mas “humildemente tenha uma mudança de mente e de coração”. Por isso, em suas 95 teses, Lutero colocou como a primeira tese: “Nosso Senhor e mestre Jesus Cristo, em dizendo, arrependei-vos, afirmava que toda a vida dos fiéis deve ser um ato de arrependimento”. Então, essa mudança de mente e de coração deve se manifestar numa vida de santificação. Isso tinha consequências importantes e práticas.
              Vejamos o que Lutero estava denunciando no ponto 45 e 46 das suas teses.
Deve ensinar-se aos cristãos: um homem que vê um irmão em necessidade e passa de lado para dar o seu dinheiro para compra dos perdões, merece não a indulgência do Papa, mas a indignação de Deus” (45).

As pessoas pensavam que para tirar o pecado e a culpa tinham de fazer alguma coisa para Deus. Diziam: “Se for assim, eu vou dar dinheiro para Deus e receber um documento que me absolve, uma indulgência. Dessa forma posso adquirir perdão e ser santo.” Mas isso não tem sentido! Não podemos ver irmãos necessitados, famintos, em sofrimento, e fazer vista grossa não assistindo o carente, mas em lugar disso, vamos comprar nosso perdão. Ao invés de fazer o que a Bíblia diz, praticar a verdadeira religião que é cuidar dos necessitados, viúvas, órfãos, vamos “comprar” a graça de Deus. Esta é uma falsa doutrina.

Deve-se ensinar aos cristãos que, a não ser que haja grande abundância de bens, são obrigados a guardar o que é necessário para os seus próprios lares e de modo algum gastar seus bens na compra de perdões” (46).

Lutero estava condenando aquele pai que, em lugar de suprir seu lar, esposa e filhos, usava o dinheiro para comprar o perdão como se fosse a vontade de Deus ver seus queridos sofrendo, tirando-lhes o pão e comprar da igreja o seu perdão. Isso era terrível. Era uma falsa doutrina. Não era alguma coisa de pouca importância como se apenas fosse um pequeno ensino diferente da Bíblia sem maiores consequências . Ao contrário, devemos dizer que falsa doutrina é um perigo para a Igreja, pois destrói a vida das pessoas. A falsa doutrina é uma força destrutiva.
Lutero vendo tudo isso e comparando com a Palavra de Deus concluiu que não deveria ser assim. Ele leu Romanos 1:16-17, e finalmente entendeu sobre a justiça de Deus que nós precisamos para entrar na Sua presença, para termos comunhão com Ele. O Salmo 15 diz: “Quem pode entrar na presença de Deus?”. “Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?”. A resposta é: Ninguém —se não for completamente santo e limpo.
Então, só o homem justo pode ter comunhão com Deus. Mas como adquirir esta justiça que Deus requer? Como conseguir um nível de santidade e perfeição que permite entrar na presença de Deus e viver com Ele para sempre? Lutero, como a maioria da Igreja da época, pensava que era através de fazer coisas; de fazer boas obras, de fazer por onde merecer o favor de Deus e se esforçar para chegar a este nível. Mas ele chegou a terrível conclusão de que era impossível conseguir a perfeição diante de um Deus santíssimo. Cada vez que tentava, via o quanto era um terrível pecador aos olhos deste Deus Santo. Ao ler Romanos 1:16 e 17, Deus abriu seus olhos para que visse claramente que a justiça de Deus é revelada: “...visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho” (Rm1:17) - “é revelada”. Ou seja, que Ele está revelando na Sua Palavra e dizendo: “Minha justiça, que é meu Filho Jesus Cristo, eu a estou revelando”. Este é o dom de Deus que nos é dado como um presente para termos comunhão com Ele; para todos aqueles que, pela fé, vão a Cristo.
Lutero, nesta época entendeu estas coisas e afixou suas noventa e cinco teses na porta do Castelo de Witemberg e provocou uma “explosão” no mundo de então. Numa época em que a Igreja e Estado estavam juntos as coisas que aconteciam na Igreja repercutiam em toda sociedade. Este é mais ou menos um resumo do que estava acontecendo naqueles dias.

Semelhança com nossos dias.
Dr. Sinclair Ferguson, um Doutor e pastor Reformado da Escócia e Estados Unidos, certa vez advertiu à igreja evangélica de hoje de que uma nova escuridão estava caindo sobre nós, uma escuridão semelhante a da Idade Média, sem a luz da Palavra de Deus. Estas trevas estão caindo novamente sobre a Igreja. Ele cita cinco pontos onde os evangélicos de hoje estão caindo no mesmo “buraco negro” da Idade Média. Devemos ver como a chamada igreja evangélica dos nossos dias é semelhante àquela igreja escravizada na escuridão da Idade Média.

1) O arrependimento era visto como um ato desligado da vida de santidade.
Na Idade Média o arrependimento era um ato que alguém fazia para conseguir, por merecimento, o perdão de Deus. O ato de fazer alguma coisa e conseguir perdão era algo separado de uma mudança de coração e mente. Naquela época eu podia entrar no lugar onde Tetzel estava “pregando”, estando o meu coração cheio de pecado, mas com meu dinheiro comprar meu perdão e sair interiormente do mesmo modo como entrei: cheio de pecado, porém, agora, com o perdão. Não tinha nada do arrependimento descrito nas Escrituras. Era um simples ato. Podia-se pecar e simplesmente ir ao padre que recomendava algumas práticas, como rezar várias vezes o Pai Nosso e várias Ave Marias, algumas penitências e tudo estava resolvido. Mas, no coração não havia mudança. Hoje, em nossos dias, vemos a mesma coisa, não somente na Igreja Católica Romana, mas nas igrejas chamadas evangélicas. O grande ato de arrependimento, hoje, não é fazer penitências, ou rezar vários Pai Nossos e Ave Marias, ou comprar alguma indulgência como na Idade Média, mas o grande ato é o “aceitar Jesus” quando algum pregador arminiano faz aquele apelo após alguns minutos de pregação. Porque, se alguém aceita a Jesus está fazendo algo semelhante. Sai da igreja como se tivesse conseguido mérito diante de Deus, mesmo estando em pecado, pois esta pessoa, por seu livre arbítrio, “abriu” seu coração e deixou “Jesus entrar”. É algo meritório, pois “eu deixei” o Deus do Universo entrar em meu coração. Ele estava querendo entrar, mas não podia! Este ato torna a pessoa um “crente” e tira dele sua condição de pecado, mas quando ele cai, novamente fica em problemas. Isso era verdadeiro arrependimento? Não. Mas esse pensamento leva muitas pessoas que caíram, dizerem que um dia voltarão e “aceitarão a Jesus” outra vez fazendo um mesmo “ato de penitência” e quando o pecado sair novamente eles se acharão justos diante de Deus. Isso é exatamente a mesma coisa do que acontecia na Idade Média com a compra de indulgências que era vendida pela Igreja Católica.
Devemos fazer uma diferença entre a chamada Igreja Católica Romana, que é uma igreja que tem sua sede numa cidade da Itália (Roma), uma igreja Papal, Igreja Romanista, e a Igreja Católica da qual fazemos parte e que significa Universal, a igreja de Cristo espalhada por todo o mundo.
Enfatizamos que não há muita diferença entre aquele ato da Idade Média, onde se fazia alguma coisa para se conseguir perdão e o que vemos na igreja de hoje quando é aceito como um ato de arrependimento o “aceitar a Cristo” num apelo feito pelo pregador que escraviza as consciências dos ouvintes com suas ameaças e promessas.
Não é por acaso que hoje em dia a mesma coisa que acontecia na Igreja Católica Romana esteja acontecendo nas chamadas igrejas evangélicas. Pois, a igreja de hoje está roubando os pobres fazendo com que as pessoas deixem suas ofertas na igreja em troca de perdão. Muitos perguntam: “Você não quer deixar Deus entrar em sua vida? Você não tem fé? Abra sua carteira e dê do seu dinheiro como um ato de fé”. Então o pai de família toma seu salário de um mês e dá tudo, com a promessa de que receberá a bênção de Deus porque foi ensinado que fez alguma coisa por Deus, um ato merecedor de “bênçãos”. Isso é a mesma coisa da Idade Média. E mesmo que não seja tão evidente, o ato do apelo por decisão nos conduz de volta à ideia indulgente de arrependimento.
Assim, o arrependimento não é um ato de mudança de mente e coração realizado por Deus, mas um ato realizado por mim mesmo, com meu esforço, totalmente desvinculado de uma obra regeneradora do Espírito Santo.

2) A voz do Espírito Santo não só é ouvida quando Deus fala através das Escrituras.
As igrejas de hoje estão buscando novas revelações do Espírito. Toda vez que falamos que há uma possibilidade do Espírito de Deus falar além das Escrituras, a Bíblia “perde” todo seu valor. Isso aconteceu também na Idade Média. A Bíblia só tinha um valor supersticioso, pois se era usada, não era para levar instrução sobre a obra de Cristo e Sua salvação. Mas apenas se usava um texto de uma forma mágica para tirar “mau olhado”. Hoje se faz a mesma coisa quando vemos nos carros a figura de uma Bíblia aberta para que Deus evite algum acidente ou de alguma ação demoníaca. O mesmo que acontecia na Idade Média está acontecendo nas igrejas ditas evangélicas de hoje, porque a Bíblia não mais é a voz do Espírito Santo, mas Deus pode falar ao homem à parte das Escrituras através de revelações e através da voz direta de Deus.
A igreja de hoje não está usando a Bíblia como a única regra de fé e prática, mas está perdida, confusa, nas trevas.
Outra consequência deste ponto é que as pessoas não estão dando o valor nem a atenção devidos ao ensino da Palavra de Deus. Na Idade Média não se dava nenhum valor ao ensino da Palavra, mas procurava-se por milagres. Hoje, quando alguém recebe uma revelação extraordinária, todo mundo quer ouvir. Isso é estar no mesmo “buraco negro” da Idade Média.

3) A presença de Deus está nas mãos de um líder, de alguém que tem “poder”. O poder de Deus está nas mãos de um líder, alguém especial, uma pessoa “ungida” que pode comunicar o poder do Espírito através de meios físicos. Na Idade Média essa pessoa era o padre com seu poder místico que podia controlar os mistérios de Deus. Quando ele dava a hóstia, ele estava dando Jesus Cristo e o povo não entendia nada, pois o clérigo falava em latim. Mas o povo pensava que ele podia dar um pouco de Cristo quando colocava a hóstia na boca dos “fiéis” e tirar seus pecados e colocar graça. Hoje vemos o mesmo nas igrejas, na TV, nos cultos de igrejas chamadas evangélicas, onde há um grande líder da igreja que Diz: “Espírito de Deus, vem!”. Vemos isso nos movimentos neo pentecostais e carismáticos, onde até se controla o Espírito. Não há muita diferença da Igreja Católica Romana.

4) A adoração a Deus se tornou um evento para expectadoresA congregação está assistindo a um show, a um espetáculo e não é o corpo de Cristo adorando o Seu cabeça, não é o povo de Deus cultuando ao Senhor com reverência em Espírito e em verdade, mas é um grupo de pessoas que chegam para assistir a um espetáculo. Na Idade Média era o padre com todos os seus rituais mágicos em latim, os grandes corais e orquestras e o povo como expectadores admirando e esperando para receber o poder de Deus. Não é diferente hoje. Vemos tantas pessoas juntas que não têm comunhão e nem unidade entre elas. É como em um teatro ou restaurante onde não se têm laços fraternais entre os espectadores e os clientes. É como se fosse um “self service” onde se vai para tirar algo. Todos estão assistindo ao show, assistindo aos corais e peças teatrais. O povo só faz assistir e aplaudir.

5) O sucesso é aferido por grandes multidões e grandes edifícios. Na concepção de hoje, uma igreja bem sucedida é aquela que se reúne em um grande prédio com vários pastores e repleto de pessoas. Por isso surgiram as mega igrejas com milhares de membros, onde você chega com sua criança e recebe um ticket para colocar o bebê no berçário. São mega igrejas onde a cada mês pessoas entram e saem (desistem). Uma membresia que não é fixa; irmãos que não se incorporaram de fato à igreja. A visão de hoje é de uma grande multidão que lota uma igreja. Isso é sinal de sucesso e o oposto é sinal de decadência. O pastor está falando o que agrada ao povo. Isso não é uma coisa nova e diferente da Idade Média. Naquela época os cardeais estavam preocupados em construir grandes catedrais e para eles isso era a igreja; cheia de riquezas, edifícios e shows espetaculares. As pequenas e humildes comunidades não tinham valor. Hoje as pequenas igrejas não são valorizadas e muitos afirmam que o Espírito Santo não está agindo porque se Ele estivesse no meio delas estas igrejas “explodiriam” e muitas pessoas viriam. Eles afirmam: “Não foram três mil pessoas que se converteram no dia de Pentecostes? Mas se as igrejas ficam pequenas e pobres, obviamente o Espírito não está presente.”
Nestes cinco pontos podemos ver a similaridade da igreja desviada de hoje, a falsa igreja, com a Igreja Romana da Idade Média. O que muitas pessoas não entendem é que a Reforma não foi uma divisão entre Catolicismo Romano e Protestantismo. Se perguntarmos a alguém: qual foi a divisão na época da Reforma ou quais os dois grupos que surgiram com a reforma? Todos vão dizer que foram os Católicos Romanos e os Protestantes. Mas não é assim. Na Reforma nós tivemos uma tríade: Igreja Universal (Católica) de Cristo; Igreja Católica Romana e Igreja Anabatista. Temos a Igreja Católica (Universal) que é de todos os tempos e lugares, pois Cristo só tem um corpo, só há uma comunhão, uma unidade num só Espírito, uma só fé, um só Pai de todos nós. Esta igreja reformou-se. Antes desta reforma a igreja estava andando mais e mais no caminho das trevas sem conhecer a luz da Palavra de Deus. Mas na Reforma, a Igreja, pela graça de Deus, voltou para o caminho da Escritura e assim continuava como corpo de Cristo. Não era pensamento dos reformadores sair da Igreja Católica Romana e começar uma nova igreja e chamá-la de Igreja Reformada. Não, eles pensavam na Igreja de Cristo! Mas quando realizaram a Reforma, a Igreja Romana e Papal continuou no seu erro, na falsa doutrina e se manteve fora da Igreja de Cristo.
Há três caminhos na Reforma e muitas pessoas confundem as igrejas anabatistas como incluídas na Reforma e com as igrejas Protestantes. No entanto os anabatistas rejeitavam a Igreja Católica Romana. Foi um grupo de pessoas que rejeitou qualquer coisa da Igreja Romana; foi uma hiper-reação contra a Igreja Romana. Não foi uma volta para a Palavra de Deus, enquanto a Reforma Protestante de fato foi. Por isso as Igrejas Reformadas não deixaram de respeitar o valor da Santa Ceia como algo importante, não apenas para lembrar Jesus Cristo e Sua obra, mas porque Ele estava presente espiritualmente nesta ordenança. As Igrejas Reformadas não deixaram de batizar as crianças porque isso é bíblico – elas estão na aliança de Deus. Para as Igrejas Reformadas a circuncisão é agora o batismo. Mas os anabatistas fizeram tudo que puderam contra a Igreja Romana e terminaram negando tudo isso.
Hoje, infelizmente, muitas pessoas pensam que anabatistas e reformados não são muito diferentes. Mas espero que depois destes cinco pontos possamos ver que as igrejas anabatistas estão muitas vezes mostrando os mesmos erros manifestados na Igreja Romana da Idade Média. Há, portanto, uma divisão tremenda entre Reformados e Anabatistas e entre Reformados e Católicos Romanos. Não há semelhança entre Anabatistas e Reformados quando se considera a Igreja Romana.
Infelizmente, no Brasil, o ensino reformado nunca chegou de forma completa. Durante a ocupação Holandesa e Francesa, sim, mas os portugueses, ao expulsarem os invasores, expulsaram os reformados também, apesar de alguns índios terem se tornando reformados e fugiram para o interior, onde ensinaram o catecismo aos índios e seus filhos, as antigas doutrinas da graça. Os padres católicos chegavam e ensinavam que tudo aquilo era errado e que eles deveriam voltar para a Igreja Romana. Os índios diziam: não! Os padres católicos vendo a fé daqueles índios afirmavam que aqui, no interior do Brasil, estava uma verdadeira Genebra. Mas, há muito que o Brasil não está com o testemunho da Reforma. Não quero generalizar, mas hoje são poucas as igrejas Reformadas neste país. O Brasil precisa de uma reforma, à semelhança da Idade Média onde as pessoas eram completamente ignorantes da graça de Deus. Assim, as pessoas nas igrejas que se dizem evangélicas, estão sofrendo por não conhecer a graça de Deus em Cristo Jesus; não conhecem o nível de certeza do perdão nem a remissão dos seus pecados. Pastores estão dizendo que pessoas que pecam perdem sua salvação, perdem a remissão dos seus pecados e provocam assim o medo, a confusão, asuperstição, e levam as pessoas a fazerem “coisas” para comprar de Deus a Sua graça. Mas a graça é algo dado pelo Senhor e não vendido. Nosso querido Brasil precisa de reforma, de uma volta à Palavra de Deus, às doutrinas da graça.
Relembrando estes cinco pontos que abordamos podemos ver que as Igrejas Reformadas são diferentes da Igreja da Idade Média.
Verdadeiro arrependimento não é fazer alguma coisa para ganhar o perdão de Deus, mas a Palavra de Deus ensina que o verdadeiro arrependimento é concedido por Deus e manifestado numa vida de santificação. Com o verdadeiro arrependimento vem uma mudança de mente e coração, um desejo forte de viver uma vida que cresce no conhecimento do Senhor e na santificação. Por isso, nas igrejas Reformadas as pessoas não se tornam membros da noite para o dia. Isso não é porque somos cruéis e queremos deixar as pessoas de fora da verdade, mas porque os presbíteros, a liderança, não podem ver o que se passa no coração e por isso precisam de: (1) Que a pessoa confesse a sua fé, que saiba o que a Bíblia diz sobre a redenção realizada por Cristo na cruz e que isto é real na sua vida. Que a pessoa creia que já tem o perdão e vida eterna em Cristo Jesus. (2) Que a pessoa deve estar vivendo de forma consequente e aplicando esta fé em sua vida. Como os presbíteros da igreja podem saber disto? Só após um período de ensino a estas pessoas e uma observação acurada da sua vida prática; elas devem dar mostras de viver o que confessam. Às vezes um congregado poderá passar até mais de um ano sendo instruído e tendo oportunidade de mostrar através de seu testemunho de vida que sua fé não é só de palavras, mas é uma fé consequente que revela uma vida de arrependimento e santificação.
Somente as Escrituras são a única regra de fé e prática. Se na igreja, o pastor prega alguma coisa errada, um simples membro pode adverti-lo com amor e dizer que ele está ensinando algo errado. Nesse caso, o pastor deverá reconhecer seu erro e mudar. Não são os presbíteros que mandam, não são os pastores que mandam, não é o Presidente do Supremo Concílio que manda, não é o Papa, nem bispo ou cardeal, mas é a Palavra de Deus; é Jesus falando e o Espírito Santo nos lembrando de Suas palavras. Cristo fala à Sua Igreja pela Palavra (única regra de fé e prática) e não é o pastor que vai criar alguma coisa como mandar as pessoas tomarem um copo de água abençoado por ele, ou que um crente não ande de bicicleta ou de bermuda. Temos muitas igrejas que estão sofrendo porque os pastores estão impondo na cabeça das pessoas várias regras. Tudo isso porque a Palavra não é a única regra de fé e prática. Graças a Deus porque onde existir uma verdadeira igreja de Cristo não é o homem que manda, mas sim, a Palavra de Deus.
No culto Reformado a pregação da Palavra é o ponto central. Cantamos, oramos e logo abrimos a Palavra e o ensino se torna o ponto central. A Palavra é aberta e pregada porque o Espírito trabalha pela Palavra como uma espada de dois gumes para cortar o coração do pecador e para endurecer o rebelde e lhe deixar mais merecedor do inferno por rejeitá-la; mas também para cortar o coração do pecador a quem Deus derrama misericórdia para mudá-lo, trocando seu coração de pedra por um coração de carne; dá-lhe verdadeiro arrependimento e frutos da fé. A Palavra é o instrumento que Deus usa para tudo isso.
Em Romanos 10 vemos Paulo dizendo algo que vivenciamos hoje. No início deste capítulo Paulo diz que Israel estava buscando sua própria justiça: “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Romanos 10:3). Diz mais que eles tinham muito “zelo por Deus, porém não com entendimento” (v.2). É o que a Igreja Católica faz ainda hoje. São zelosos, fazem muitas coisas, mas sem entendimento. São operosos, mas sem entender nada. Eles não têm lido Romanos 1:16-17, pois ali Paulo diz que Deus tem uma justiça que Ele próprio nos dá. Continuam ignorantes disso e correm a todo lugar tentando comprar esta justiça, enquanto que Deus está dizendo: “Vem, toma”. Mas eles dizem: “Eu quero comprar”. Isto é zelo sem entendimento, pois a justificação não é possível através da prática da Lei. Paulo diz no v. 8: “Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coraçãoisto é, a palavra da fé que pregamos”. Paulo fala do que é necessário para recebermos todos os benefícios de Cristo: Confessar Jesus como Senhor (v.9), ter a verdadeira fé (v.10) e como podemos adquirir esta fé salvadora: “Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm10:13). Apenas isso e teremos a plena remissão dos nossos pecados. Paulo ainda diz: “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram?”. Temos de crer. É impossível invocar o nome de Deus se não cremos. “E como crerão naquele de quem nada ouviram?”. Como posso crer se nunca ouvi nada a respeito dele? “E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! (Rm 10:14-15). Paulo está dizendo aqui que, a pregação é algo muito importante no processo da salvação. Na pregação, Deus se revela aos pecadores e através dela surge a fé que salva o pecador.
Mas, a Igreja de hoje não valoriza a pregação da Palavra de Deus e quer dar mais valor ao emocional, ao coral de crianças, às peças teatrais, aos testemunhos, às cantatas, etc, do que à pregação da Palavra. Esta é uma igreja que não merece o nome de igreja. É apenas um grupo religioso, um clube onde pessoas gostam de falar de religião, mas não é a Igreja de Cristo. A verdadeira Igreja prega Cristo sabendo que Sua palavra é eficaz para salvação de pecadores.
A verdadeira igreja de Deus ensina que o arrependimento não é apenas um ato, mas uma vida de santificação e só a Palavra faz isso e não a imaginação do homem (João 17:17).
A Igreja verdadeira é aquela onde se ensina que a Bíblia é a única regra de fé e prática.
A Igreja verdadeira é aquela onde o culto é reverente e dedicado à glória de Deus. Não é um show; o homem não está no centro, mas Deus. Nesta igreja os crentes se preocupam com a honra de Deus e é onde o povo de Deus tem um encontro com Ele. Mas, o culto de hoje é um conjunto de pessoas assistindo outras fazerem apresentações; é alguma coisa horizontal entre pessoas que não têm reverência, que entram e saem porque já ouviram certos testemunhos pessoais por várias vezes. O povo não está na presença de Deus; estão apenas buscando manifestações e sinais. A verdadeira igreja de Cristo adora a Deus em espírito e em verdade e em reverência.
O tamanho da igreja não é medido fisicamente, mas espiritualmente. Não medimos o sucesso da igreja pelo seu edifício ou quantas pessoas estão dentro dele. Poderemos prometer muitas coisas ao povo para fazer encher o edifício ou até prometer riquezas. O tamanho do edifício ou do número de membros não é uma manifestação do sucesso da igreja, mas o tamanho espiritual de um povo que vive a Palavra de Deus.
As igrejas sempre estão falando do Espírito Santo, mas pouco se fala do fruto do Espírito (Gl 5). Como isso é raro! O fruto do Espírito não são coisas espetaculares, impressionantes, mas é uma vida simples de serviço. Você não pode pular e gritar: “Eu tenho paciência!!”. Mas paciência se manifesta através de uma vida paciente, serena. Você não pode gritar: “Eu tenho amor!!”. Mas amor é algo que se demonstra ao irmão, ao marido, à esposa, aos filhos, aos colegas, aos vizinhos. Isso é difícil de ser visto, de ser manifestado, porém, é mais fácil buscar sinais e maravilhas, os dons extraordinários. Jesus disse que “uma geração perversa é má, busca sinais”. A igreja de Cristo não busca sinais, nem coisas que impressionem, ou prédios cheios de pessoas, mas busca crescimento no Senhor Jesus Cristo; crescimento espiritual e amadurecimento em Cristo. Como podemos crescer assim? Como podemos manifestar o amor de Cristo em nossas vidas? Como podemos testemunhar cada vez mais da obra de Jesus Cristo em nossos corações? Temos uma fonte: A Palavra de Deus. Devemos sempre voltar à Palavra de Deus – Reformado, sempre reformando. Nesta fonte somos fortalecidos na nova vida em Cristo. Nesta fonte somos cada vez mais ensinados pela graça de Deus que nos liberta do pecado; ela nos aperfeiçoa, nos faz mais maduros até que o dia da Sua vinda chegue. Tudo isso é possível se estivermos bebendo desta fonte.
Começamos vendo a questão do arrependimento que está na primeira tese de Lutero: “Nosso Senhor e mestre Jesus Cristo, em dizendo, arrependei-vos, afirmava que toda a vida dos fiéis deve ser um ato de arrependimento”. Lutero chamou a Igreja para voltar ao ensino da Palavra de Deus. A vida cristã é uma vida de santificação onde a Palavra de Deus está agindo cada dia mais nos filhos de Deus
              Isso é verdade em nossas vidas? Isso está sendo ensinado nas igrejas ditas evangélicas? Creio que não. Vamos trabalhar e orar para que Deus possa agir em nosso país e produzir a reforma que precisamos.
              Amém.

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Mensagem proferida pelo Pr. Kenneth Wieske, das Igrejas Reformada do Brasil (na Congregação Reformada do Ibura – Recife/outubro/2001.
...e as Línguas?


É um livro importantíssimo, no qual o Pastor e Teólogo Anthony Hoekema (1913-1988) escreveu sobre a prática iniciada pelos modernos pentecostais, nos primórdios do século XX nos Estados Unidos da Amárica do Norte, conhecida como o falar em línguas, entre outras supostas manifestações do "Espírito".   

domingo, 16 de setembro de 2012

Salmo 1 - Melodia Genebrina




Prefácio de Calvino ao Saltério de Genebra

 (Tradução: Lucas G. Freire)
Da mesma forma que é um requisito básico do cristianismo, e muito necessário, que cada um dos crentes observe e mantenha a comunhão da igreja em sua vizinhança, freqüentando as reuniões tanto no Domingo como também em outros dias para honrar e para servir a Deus, é vital e razoável que todos tomem conhecimento e ouçam aquilo que é dito e feito no templo, recebendo, assim, fruto e edificação.

Discernimento é essencial
Porque nosso Senhor não instituiu a ordem que devemos observar quando nos reunimos em seu nome somente para nossa diversão e passatempo ao [meramente] assistir [ao culto]. Pelo contrário, ele quis que isso fosse proveitoso para todo o seu povo, tal como S. Paulo testifica, ordenando que tudo o que for feito pela igreja seja direcionado à edificação comum de todos, e isso não seria ordenado pelo servo se não fosse a intenção do próprio Mestre. Mas isso não pode ser implementado a não ser que sejamos instruídos no conhecimento de tudo aquilo que foi ordenado para nosso próprio benefício. Porque afirmar que é possível ter devoção, tanto nas orações como nas cerimônias, sem entender nada, é uma grande zombaria, não importanto o quanto essa [mentira] é repetida. [E] essa boa afeição a Deus não é uma coisa morta nem embrutecida. Pelo contrário, é um momento muito vivo, que procede do Espírito Santo quando o coração for adequadamente tocado e o entendimento for iluminado. E, com efeito, se fosse possível ser edificado por aquilo que se vê sem compreender o que significa, então S. Paulo não proibiria tão rigorosamente que se falasse em uma língua desconhecida [sem interpretação], nem utilizaria o raciocínio de que não há edificação quando não há ensino. Então, se de fato quisermos honrar as ordenanças sagradas do nosso Senhor que usamos na igreja, é primordial conhecer o seu conteúdo, o seu significado e a sua finalidade, de modo que seu uso seja útil e salutar e, conseqüentemente, regulado de forma justa.
Elementos do culto
Ora, há, resumidamente, três coisas que o Senhor ordenou que observássemos no nosso ajuntamento espiritual, a saber, a pregação de Sua Palavra, orações públicas e solenes e a ministração dos sacramentos. Aqui, abstenho-me de falar sobre sermões porque não vem ao caso. Sobre os demais fatores, temos o mandamento expresso do Espírito Santo [ordenando] que as orações sejam feitas em linguagem difundida entre as pessoas, e o Apóstolo disse que o povo não deveria responder “Amém” àquela oração feita em idioma estrangeiro. Contudo, isso é porque as orações são feitas em nome e em lugar de todos, de modo que todos devam participar. Assim, há uma grande imprudência por parte daqueles que introduziram a língua do Latim na igreja, onde ela não é compreendida de forma geral. E não há nem sutilezas nem exceções que possam desculpá-los, porque essa prática é perversa e desagrada a Deus. Além disso, não há motivo para pressupor que Deus julga agradável aquilo que obviamente contraria sua vontade e, por assim dizer, apesar dele. Portanto, nada o afeta mais do que ir, dessa forma, contra a sua proibição, e gabar-se de tal rebelião como se fosse uma coisa sagrada e, inclusive, até merecedora de elogios.
Sacramentos ministrados junto com ensino
No que tange aos sacramentos, se examinarmos a fundo sua natureza, reconheceremos que é um hábito perverso celebrá-los de tal forma que o povo não somente os veja, mas também compreenda os mistérios contidos ali. Porque se são “palavras visíveis” (tal como Sto. Agostinho os apelida), é preciso não somente que eles sejam uma demonstração externa, mas também que o ensino seja juntamente ministrado, atribuindo-lhe inteligibilidade. Inclusive, o nosso Senhor, ao institui-los, demonstrou muito bem isso, porque diz [na Palavra] que eles são testemunhos da aliança que ele fez conosco, confirmada por sua morte. É preciso, portanto, que lhes seja explicado o sentido, para que possamos conhecer e compreender aquilo que ele disse. De outra forma, teria sido em vão que o Senhor abriu seus lábios para falar, se não tivesse à sua volta ouvidos para ouvir. Logo, não são necessárias maiores discussões sobre isso. E, quando a questão é examinada com bom senso, fica claro que é mera bagunça distrair as pessoas com símbolos que para elas não faz sentido. Por isso, é fácil ver que os sacramentos de Jesus Cristo são profanados ao serem ministrados de forma que o povo não compreenda quaisquer dizeres que são pronunciados acerca deles. Com efeito, pode-se ver que diversas superstições emergem de tal prática. Por exemplo, muitos consideram que a consagração, digamos, da água do Batismo ou do pão da Ceia do Senhor, são uma forma de encarnação, querendo dizer [com isso] que, uma vez aspirados e pronunciados com a boca os dizeres, criaturas incapazes de sentir sentem o poder, embora as pessoas nada compreendam. Entretanto, a verdadeira consagração é aquela que se faz através da palavra de fé, quando declarada e recebida, tal como Sto. Agostinho disse: “aquilo que está expressamente contido nas palavras de Jesus Cristo”. Porque, ora, ele não disse ao pão que aquilo é o seu corpo. Ao invés disso, ele dirigiu a palavra à companhia dos fiéis, dizendo “tomai, comei” etc. Logo, se quisermos celebrar em verdade esse sacramento, é necessário para nós que tenhamos também o ensino, através do qual se explica aquilo que é simbolizado. Reconheço que isso parece meio estranho àqueles que não estão acostumados, tal como ocorre com toda novidade. Mas é muito sensato [de nossa parte] – se somos discípulos de Jesus Cristo – que prefiramos suas instituições aos nossos costumes. E aquilo que ele instituiu desde o começo não deve representar tanta novidade assim.
Se isso ainda parecer impenetrável ao entendimento de qualquer pessoa, é preciso orar a Deus para que, se for de sua vontade, ele ilumine os ignorantes, concedendo-lhes a compreensão do quão sábio é que todas as pessoas não aprendam a se fundamentar sobre os próprios sentidos, nem na sabedoria maluca de seus líderes cegos. Porém, para uso da igreja, pareceu proveitoso publicar, quase como um formulário, estas orações e sacramentos para que todos reconheçam aquilo que ouvem e que vêem durante a reunião cristã. Contudo, este livro não cumprirá seu objetivo só para o povo desta igreja, mas também para aqueles que desejam conhecer qual forma os crentes deveriam utilizar e seguir quando se reúnem no nome de Cristo [para cultuar].
Dois tipos de oração
Até aqui, tratamos em resumo do modo de celebração dos sacramentos e santificação do matrimônio e, similarmente, das orações e dos louvores que usamos. Falaremos mais acerca dos sacramentos depois. Quanto às orações públicas, existem dois tipos. Aquelas somente com palavras e aquelas que são cantadas. E isso não foi inventado pouco tempo atrás. Foi assim desde os primórdios da igreja, pelo que consta nos relatos históricos. A mesmo S. Paulo menciona oração não somente pela boca, mas também com o canto. E sabemos, de fato, que o canto tem grande força e vigor para mover e inflamar os corações das pessoas a invocar e a adorar a Deus com zelo mais veemente e ardente. Deve-se sempre tomar cuidado para que a música não seja leve nem frívola, mas que tenha peso e majestade (como diz Sto. Agostinho) e, também, há uma considerável diferença entre a música que se compõe para o entretenimento nas tavernas e botecos e os Salmos que são entoados pela igreja na presença de Deus e de seus anjos. Mas quando qualquer um quiser raciocinar corretamente sobre a forma que é aqui apresentada [ie, no Saltério de Genebra], esperamos que ela seja encontrada santa e pura, uma vez que é simplesmente destinada à edificação mencionada anteriormente.
Expressão pelo canto
Além disso, a prática do canto pode se estender ainda mais, servindo nos lares e no campo como um incentivo para nós, tal como um órgão de louvor a Deus, e [servindo] também para elevar-nos os corações a ele, para nos consolar através da meditação em sua virtude, bondade, sabedoria e justiça, o que é mais necessário do que se pode imaginar. Primeiramente, não é sem motivo que o Espírito Santo nos exorta tão cuidadosamente nas Sagradas Escrituras a nos alegrarmos em Deus, e que toda a nossa alegria é ali resumida em seu fim verdadeiro, porque ele sabe como somos inclinados a nos alegrar em futilidades. E, como a nossa natureza nos leva e nos induz a buscar todos os meios de alegria insensata e viciosa, nosso Senhor, pelo contrário, nos desvia e nos retira das tentações da carne e do mundo, apresentando-nos todos os meios possíveis para que nos ocupemos com alegria espiritual que ele tanto nos recomenda.
Importância da música
Ora, dentre todas as outras coisas que são feitas para recrear o ser humano e para dar-lhe prazer, a música é uma das principais (senão a primeira). E é necessário que a vejamos como uma dádiva de Deus para aquele fim. E também, por causa disso, deveríamos tomar todo o cuidado para não abusarmos dela, por medo de a contaminarmos e a mancharmos, convertendo-a em [instrumento para] nossa condenação, quando ela [deveria ser] dedicada ao nosso proveito e uso. Se não houvesse qualquer outra consideração além dessa, teríamos que os inclinar a moderar o uso da música de maneira a servir a todas as coisas honestas e a não dar margem para a nossa propensão a dar espaço para a dissolução, ou para nos colocarmos em prazeres efeminados e desordeiros. E, também, para que ela não se torne meio de lascívia e de vergonha.
Poder da música
Outra coisa deve ser dita: é dificil que haja no mundo qualquer outra coisa que seja mais capaz de influenciar e desviar dessa forma a disposição do ser humano, tal como Platão prudentemente observou. E, de fato, percebemos pela experiência que [a música] tem um poder sagrado e quase incrível de mover os corações de um jeito ou de outro. Portanto, devemos ser ainda mais diligentes ao regulá-la de forma tal que ela seja útil para nós, e [que] não [seja] perniciosa de forma alguma. Foi por esse motivo que os doutores antigos da igreja reclamaram freqüentemente que as pessoas de sua época estavam viciadas em músicas desonestas e despudoradas, às quais esses [doutores] se referiam – com razão – como veneno mortal e satânico para corromper o mundo. Além do mais, ao falar agora sobre a música, faço duas divisões. A saber, a letra, ou assunto e conteúdo. E, em segundo lugar, a música, ou melodia. É verdade que toda má palavra (como S. Paulo disse) corrompe a boa forma, mas quando a melodia a acompanha, fere ainda mais ao coração, e penetra nele, como se através de um funil. Tal como o vinho se derrama em um vaso, o veneno e a corrupção se destilam às profundezas do coração pela melodia.
Por que a escolha dos salmos
O que deve ser feito, então? Usarmos músicas não somente honestas, mas também santas, que nos sirvam de estímulo para que oremos e adoremos a Deus, e para que meditemos sobre sua operação para que o amemos, temamos, honremos e glorifiquemos. E, também, o que disse Sto. Agostinho é verdade: que ninguém é capaz de cantar dignamente a Deus, a não ser [que cante] aquilo que já recebeu dele. Portanto, quando buscarmos profundamente, e procurarmos aqui e acolá, jamais conseguiremos encontrar canções melhores e mais adequadas a esse propósito que os Salmos de Davi, que o Espírito Santo falou e compôs através dele. E, além disso, quando os cantamos, estamos certos de que Deus no-los põe na boca, como se ele mesmo estivesse cantando através de nós para exaltar a sua glória. Donde vem a exortação de Crisóstomo a que, tanto homens como mulheres e crianças pequenas se acostumem a cantá-los, a fim de que isso sirva de uma espécie de meditação para que nos associemos à companhia dos anjos.
É preciso cantar com entendimento
De resto, é necessário ressaltar aquilo que S. Paulo disse: que cânticos espirituais não podem ser bem entoados, a menos que sejam [cantados] de coração. Mas o coração requer inteligência. E é nisso (diz Sto. Agostinho) que reside a diferença entre o canto dos homens e o dos pássaros. Pois pode bem ser que um sabiá, um uirapuru ou um papagaio cantem bem, mas jamais o farão com entendimento. A dádiva singular que os homens têm é cantar com conhecimento daquilo que cantam. Sujeitos à inteligência estão o coração e os sentimentos, e isso ocorre só quando temos o hino impresso em nossa memória para que jamais cessemos de cantar. Por esses motivos, o presente livro, por essa causa, além daquilo que já se mencionou, é uma recomendação única para cada um que deseja se alegrar honestamente e de acordo com [a vontade de] Deus, para seu próprio bem-estar e para o proveito das pessoas próximas. E, assim, [o saltério] todo se faz necessário e recomendável por mim, sendo digno de reconhecimento e elogio. Mas todo o mundo deve ser ensinado a substituir as músicas vãs e frívolas, bobas e enfadonhas, cruéis e vis e, em seus efeitos, danosas e prejudiciais que tem utilizado até agora, para que se acostume doravante ao canto desses hinos divinos e celestiais junto com o grande rei Davi. Sobre a melodia, pareceu que ela deve ser moderada, à maneira que temos adotado para levar o peso e a majestade apropriados ao conteúdo, e também adequadas ao canto pela igreja, conforme aquilo que foi dito.
De Genebra, 10 de Junho, 1543.

Fonte: 

“Calvin’s Preface to the Psalter”, trad. para o inglês do prefácio em Les Pseaumes mis en rime francoise par Clément Marot et Théodore de Béze. Mis en musique a quatre parties par Claude Goudimel. Par les héritiers de Francois Jacqui (1565). Disponível em inglês em:http://www.fpcr.org/blue_banner_articles/calvinps.htm

Sermão - Andar com o Senhor no Amor Verdadeiro.


Leitura: Salmo 16; Salmo 27.1, 4       
Texto: Dia do Senhor 34     
                    
Amada Igreja do Senhor Jesus Cristo!

O profeta Amós pergunta: “Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” (Amós 3.3). Todos nós sabemos que: se duas pessoas estão andando juntas pela calçada, é porque elas devem ter algo em comum, porque os vemos falando um com o outro; ninguém encontra duas pessoas que não se conhecem andando pela calçada conversando como duas pessoas íntimas. Você não encontra os vizinhos que estão brigados andando juntos para ir ao trabalho ou churrasco ou um convidando o outro para ir almoçar em sua casa. Duas pessoas andam juntas porque elas devem ter algo em comum.
E isto tem tudo haver com os Dez Mandamentos. Os Dez Mandamentos têm tudo haver como nós ‘andamos com o Senhor’. Como é a nossa vida com Deus. Se nós andamos ou não em ACORDO com o Senhor. Quando o SENHOR Deus nos deu os seus mandamentos foi exatamente para conhecermos Ele melhor. Ele fez uma aliança conosco e nos deu os seus Mandamentos para entendermos melhor quem é Ele e o que Ele quer de cada um de nós. Ele quer o nosso coração nos dando os Dez Mandamentos. Se você prestar atenção como começa os Dez Mandamentos você entenderá como Deus é um Deus maravilhoso. Antes de dá os Dez mandamentos Ele diz: “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex 20.2). Ele começa mostrando que Ele é o Deus de Israel e em seguida Ele fala o que Ele fez pelo seu povo. Então, Ele dá os Dez Mandamentos para que o povo Lhe conheça melhor e ande do lado do seu Deus.
O primeiro mandamento é este: “Não terás outros deuses diante de mim”. Significando que nada em nossa vida pode ter um lugar mais importante, mais elevado do que o Senhor tem. Nada pode tomar o seu lugar no topo de nossa vida. Não podemos andar com outros deuses. Porque andar com Deus significa ter algo em comum com o SENHOR Deus.
O resumo da lei diz: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mateus 22.37). Isso significa que devemos servir a Deus com todo o nosso ser. Não pode haver uma única reserva em nossa vida que seja para servir ao SENHOR Deus. Porém, como podemos fazer isso?
Eu vos proclamo a palavra de Deus no seguinte tema:

Tema: Andar com o Senhor no amor verdadeiro
1. Como andar em confiança
2. Como andar em obediência
3. Como confiar e obedecer

1. Como andar em confiança

Irmãos, a própria idéia de andar com Deus é surpreendente! Como Amós disse: “Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?”. E quem pode dizer que eles e Deus estão em total acordo? Quem estiver sem pecado, ele pode andar com o seu Criador? Não estamos falando apenas de andar com o seu amigo. Estamos falando de andar com o seu Deus. Ele fez você. Ele deu-lhe um propósito. Você responde a ele. Ele sustenta o mundo inteiro. Ele vai julgar isso tudo no final. Como podemos reivindicar andar com Ele?
Irmãos, a idéia nos leva ao Jardim do Éden. Logo após o pecado entrar neste mundo, lemos que o homem e sua esposa ouviram o som (a voz) do SENHOR Deus, pois andava no jardim pela viração do dia (Gênesis 3.8). Eles se esconderam com medo porque havia pecado neles. Mas o fato de que eles reconheceram o som, sugere que Deus já tinha andado com eles no jardim anteriormente.
Porém, o pecado quebrou isso. O pecado quebrou esse laço de amizade. Após o pecado entrar neste mundo, não vemos na Bíblia falando que Adão e Eva estão andando com Deus. Por causa do pecado Adão e Eva fogem de Deus. Não estão andando mais com Deus. Por isso, é muito importante lembrarmos que quando falamos sobre andar com Deus, estamos retornando ao Jardim do Éden. Onde Deus andava com Adão e Eva. Significa que aquela amizade, aquela comunhão que existia no Jardim do Éden foi quebrada, desfeita. Pecado significa rebelião contra os mandamentos do Criador do céu e da terra. Significa não estar satisfeito com a maneira que o Criador cuida do você. E foi exatamente isso o que aconteceu.
Quando Deus criou tudo o que existe, Ele disse que tudo o que Ele fez era muito bom e isso significa que o pecado não fazia parte da sua criação. Em seguida o Criador criou um paraíso – o Jardim do Éden – e colocou o homem para morar e cuidar daquele jardim. O homem recebeu liberdade para desfrutar de tudo no jardim, porém, com uma única exceção: não podia comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Era um mandamento fácil para o homem cumprir – já que Deus o havia dotado com perfeita justiça e santidade. Não havia pecado no homem. Então, nós escutamos a Bíblia falando que na viração do dia o Senhor veio até Adão e Eva. Adão e Eva reconheceram que era o SENHOR e fugiram com medo. Por quê? Porque eles pecaram contra o mandamento do SENHOR, seu Criador. Quando Deus pergunta por que eles estavam se escondendo, eles dizem que estavam com medo.
Vejam que o pecado quebrou o laço de amizade entre o Criador e as suas criaturas. Em vez de andar com Deus, Adão e Eva fogem da presença de Deus. Por quê? Porque eles não estão em total acordo com Deus. A comunhão que existia desapareceu por causa do pecado. Então, Deus irado com o homem em pecado e desgostoso do homem, o lançou fora de sua presença e o homem foi proibido de andar com Deus por causa do pecado. E em Adão nós fizemos o mesmo. Nós lançamos fora a comunhão com Deus. Preferimos a comunhão com o diabo. Por isso – em Adão – Deus nos expulsou do paraíso.
Então, como podemos falar em andar com Deus? Como podemos nós dizer que andamos com Deus? Isso significa que a comunhão que foi quebrada no paraíso, agora foi restaurada novamente. Todo mundo tem que entender, então, que andar com Deus é o privilégio exclusivo de um cristão. Por esta razão, a idéia de andar com Deus pertence especialmente à última das três seções do Catecismo de Heidelberg. Na primeira seção confessarmos os nossos pecados, que os nossos pecados quebraram nossa comunhão com Deus. Na segunda seção expressamos nossa fé no único e trino Deus. Ele providenciou reconciliação para dar uma nova fundação para a comunhão. Só então, estamos prontos para andar com Deus, a terceira seção, é chamada de “nossa gratidão”.
Comunhão é o exercício de nossa fé. Onde as pessoas podem ver Deus em nossa vida. Como pode alguém fazer isso? Quando ele ou ela coloca sua confiança no Senhor. E para confiar em alguém devemos conhecer esse alguém. Devemos saber quem é essa pessoa para podermos confiar. Assim é com o nosso Deus. Devemos conhecê-lo como Ele se revela nas Sagradas Escrituras. Como Ele se apresenta a pecadores como nós em sua palavra.
O Salmo 115.9-11 diz: “Israel confia no SENHOR; ele é o seu amparo e o seu escudo. A casa de Arão confia no SENHOR; ele é o seu amparo e o seu escudo”. Israel aqui é chamado a confiar no SENHOR como a casa de Arão confia. Por que a casa de Arão confia no SENHOR? Porque “ele é o seu amparo e o seu escudo”. Arão confia porque ele conhece quem é o SENHOR Deus. O SENHOR não era um Deus estranho, era um Deus bem íntimo de Arão de tal maneira que o SENHOR é aquele que ampara Arão e o protege. E Arão provou isso em sua vida. E Israel é chamado a fazer o mesmo que Arão fez: confiar no SENHOR.
O SENHOR disse a Abraão em Gênesis 15.1: “Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão serás sobremodo grande”. O SENHOR diz: “Não temas”, ou seja: “Confie em mim, Abrão!”. A primeira coisa sobre andar com Deus é que nós precisamos confiar nele, e a primeira coisa sobre confiar nele é saber como ele é confiável. Deus não é como os homens que não podemos confiar. Que hoje tem um pensamento e amanhã outro, alguém que muda a todo o momento. O SENHOR é um Deus que permanece da maneira que Ele se revelou ao homem. E isso foi o que Abraão provou em toda a sua vida. Mesmo quando Abraão duvidava e fazia o que não devia, Deus permanecia o mesmo com sua promessa. Isso levou a Abraão a ser chamado de amigo de Deus. Pois ele conheceu a Deus e depositou sua confiança no SENHOR.
Isaías proclama no capítulo 26.3-4 do seu livro o seguinte: “Tu, SENHOR, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti. Confiai perpetuamente, porque o SENHOR Deus é uma rocha eterna”. O SENHOR é uma rocha que não será movida. Ele não vai mudar. Você pode colocar sua confiança nele para entregar-lhe sua vida e ele sempre será capaz de realizá-la.
Nossa confiança no SENHOR é sempre reforçada pela leitura de sua Palavra. Por que isso? É porque nós lemos das grandes obras que ele fez por nós e em nós. Podemos ler como Ele nos criou; libertou-nos da escravidão do pecado e do diabo; matou o seu Filho em nosso lugar e nos adotou como seus filhos amados e muito mais. Estas grandes coisas tornam o SENHOR confiável e nós podemos saber dessas boas novas lendo a Sua Palavra.
Então, depois de ler essas coisas, queremos andar com Ele todos os dias de nossas vidas. Queremos andar como Adão e Eva andavam no Jardim do Éden. Queremos conhecê-Lo mais e mais. Queremos saber mais e mais a sua vontade para a nossa vida. Assim com o desejo de conhecê-Lo mais e mais nos leva a leitura de Sua vontade revelada nas Escrituras. Já que o conhecemos, queremos falar com Ele em nossas orações. Queremos fazer isso porque Ele é o alvo de nossa vida e entenderemos o significado mais profundo do primeiro mandamento.
Quando o Senhor ordena que não tenhamos outros deuses diante dEle, está declarando que nada mais deve tomar o seu lugar como Deus. Deus está dizendo: ‘Não acredito que você pode ter sucesso na vida de qualquer outra forma. Não acredito que você vai ganhar a batalha com a ajuda de mais ninguém. Só eu posso lutar as suas batalhas. Você só precisa andar comigo e veja o que vou fazer! Eu vou lutar por você. Você não precisa de nenhum adivinho, de bruxo, ou outros supersticiosos para lhe ajudar’.
Irmãos, nós confessamos que a idolatria, feitiçaria e superstição são coisas que precisamos evitar por amor a nossa salvação. Porque quando procuramos essas coisas, negamos a nossa confiança no Senhor. Nós tentamos manipular os eventos de nossas vidas sem se submeter à vontade de Deus.
As pessoas se voltam para as coisas supersticiosas por medo. Elas não têm em que confiar. Por isso em uma tentativa desesperada tentam controlar suas vidas criando ídolos, feitiçaria e supertição para ver se conseguem consolar seus corações perturbados pelo medo do futuro. Pois elas não têm consolo na vida, mas suas vidas são vidas de insegurança e incertezas.
As pessoas também se voltam para as superstições porque mesmo quando elas confiam no Senhor, o resultado nem sempre é o esperado. O Senhor não garante dar tudo o que queremos, ele dá o que precisamos – a salvação em primeiro lugar. Às vezes isso não é suficiente para nós. Porém, confiar no Senhor só é real quando continuamos a confiar ainda que as coisas estejam indo mal. O que é a confiança quando ela é testada?
Considere a resposta dos três jovens ao rei Nabucodonosor: “Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e de tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (Daniel 3.16-18).
Se eles confiaram no Senhor naquela época, devemos nós confiar ainda mais. Porque nós sabemos o que Cristo fez por nós na cruz do calvário em nosso lugar. A Forma para a Celebração da Santa Ceia resume o que Cristo fez da seguinte forma: “Ele se tornou homem para carregar a ira de Deus por nós. Ele foi preso a fim de que nós fôssemos libertos. Ele, embora inocente, foi condenado à morte, a fim de que nós fôssemos absolvidos por Deus. Ele foi amaldiçoado a fim de que nós fôssemos abençoados. Ele foi desamparado por Deus a fim de que nós nunca mais fôssemos desamparados por Ele. E quando disse: "Está consumado" (João 19.30), Ele confirmou a nova e eterna aliança quando morreu e derramou o seu sangue”.
Devemos fazer como confessamos no nosso Catecismo que diz: “Devo amar, temer e honrar a Deus de todo o coração, e esperar todo o bem somente dEle”. Ele é o nosso auxílio e escudo em todos os momentos de nossa vida.
Irmão imagine que você tem um câncer e este câncer pode lhe levar a morte a qualquer momento. Não há mais cura para você e você sabe que isso é verdade. Você ainda continuaria confiando em Deus? Confessando que Ele é seu Senhor?
Se dependesse de nós, não. Não continuaríamos confiando em Deus. Pelo contrário, iríamos tentar arrumar um jeito de fazer algo para mudar o quadro. Ficaríamos em desespero e procuraríamos ídolos e outras coisas que são mentiras, simplesmente por não aceitar a vontade de Deus em nossa vida.
Mas, por causa de Cristo, continuamos confiando em Deus. Por causa de Cristo continuamos depositando nossa fé em Deus. Por causa de Cristo continuamos na Igreja. Por causa de Cristo continuamos lutando contra as tentações que chegam até nós. A cada dia levantamos de nossa cama, não pensando no que pode acontecer com nossas vidas naquele dia, mas dando graças a Deus por mais um dia de vida e agradecendo pelo nosso futuro está nas mãos do nosso amado. E a cada dia temos mais ânimo para andar mais e mais com Deus. Confiando em nosso Deus maravilhoso!

2. Como andar em obediência

Irmãos, por que os três jovens se recusam a adorar a imagem de Nabucodonosor? Porque eles sabiam da ordem de Deus para não ter outros deuses diante dele. Por que eles insistem em sua decisão apesar de terem sido ameaçados de morte? Porque eles estavam determinados a serem obedientes ao Senhor. Eles tinham aprendido a lição do castigo de Israel no exílio. Pela graça de Deus, Ele determinou que nós devemos “renunciar a todas as criaturas e não fazer a menor coisa contra a vontade de Deus”. Sua confiança (dos três jovens) mostrou-se em sua obediência.
A menor coisa contra a vontade de Deus é desobediência. Desobediência praticamente equivale à idolatria, porque mostra uma falta de confiança. Desobediência é como dizer: “Sim, o Senhor diz para fazer isso ou aquilo, mas se eu seguir seu caminho vou ter algum tipo de problema. Eu sei de uma maneira melhor”.
Andar com o Senhor no amor envolve mais do que dizer: “Eu confio nele,”.
Jeremias 7.4 diz: “Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este”. O profeta estava repreendendo Israel porque confiava em Deus de uma maneira errada. Não vivia confiando realmente no SENHOR para cumprir os seus mandamentos. Mas, achavam que o SENHOR sempre protegeria Israel por causa de seu templo que estava em Jerusalém. Achava que podia ser crente e viver no pecado e ao mesmo tempo não ser castigado pelo Senhor porque o Templo do SENHOR estava em Jerusalém. O povo achava que podia servir a Deus e ao mundo; podia ser de Deus e viver sem Deus ao mesmo tempo.
Andar com o Senhor é, portanto, regulado pelos Dez Mandamentos, para começar. Podemos dizer que os Dez Mandamentos é um resumo do que Deus “revelou em sua Palavra”. E essa Palavra deve governar a nossa vida inteira. Em todas as áreas de nossa vida.
Qual o resumo da lei? “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mateus 22.37). O nosso amor a Deus é exigido por sua lei em nossas vidas. O nosso Catecismo diz que: “... é preferível abandonar todas as criaturas a fazer a menor coisa contra a vontade de Deus”. Devemos confiar nEle e não na sua criação.
É por esta razão que nós incluímos em nossa confissão de fé os Dez Mandamentos e a Oração do Senhor. Deus nos deu os Dez mandamento e a Oração para regulamentar as nossas vidas. Então, tudo que deve regulamentar a nossa vida é a Palavra revelada de Deus. Lembrem-se: o Senhor sempre está conosco em todos os momentos de nossa vida. Por isso podemos andar em obediência diante dEle.

3. Como confiar e obedecer

Para confiar e obedecer no SENHOR ao mesmo tempo pode ser resumido da seguinte forma: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mateus 22.37). Quanto mais nós confiamos nele, mais vamos obedecê-lo.
Por outro lado, quanto mais se obedece ao Senhor, o mais evidente é que nós confiamos nele. Mesmo confiando nele é uma questão de obediência, em algum sentido. Pois, nas Escrituras, ele realmente nos ordena a confiar nele. “Oferecei sacrifícios de justiça e confiai no Senhor” (Salmo 4.5). “Confia no SENHOR e faze o bem” (Salmo 37.3). “Confiai nele, ó povo, em todo tempo; derramai perante ele o vosso coração; Deus é nosso refúgio” (Salmo 62.8). Isto não significa que a confiança é a mesma coisa que a obediência. Confiar e obedecer são duas coisas diferentes, mas sempre andam juntas. Ambos são necessários para que andemos com Deus no amor verdadeiro.
Para aqueles que vivem dessa maneira, o Senhor Jesus mantém a promessa que ele deu para a igreja de Sardes em Apocalipse 3.4: “Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas”. Coloque o Senhor Jesus Cristo antes de você. Lembre-se de sua caminhada nesta terra, como ele veio para viver entre nós e andar conosco. Ande com ele agora, e você vai andar com ele na Nova Jerusalém, de uma forma que não pode ser quebrada como foi no Jardim do Éden. Ande com ele hoje e Ele nunca lhe deixará sozinho. Amém.
Pr. Alexandrino Moura
Recife 16-09-2012.
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Textos bíblicos:

Salmos

16.1   [Hino de Davi] Guarda-me, ó Deus, porque em ti me refugio.

16.2   Digo ao SENHOR: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente.
16.3   Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer.
16.4   Muitas serão as penas dos que trocam o SENHOR por outros deuses; não oferecerei as suas libações de sangue, e os meus lábios não pronunciarão o seu nome.
16.5   O SENHOR é a porção da minha herança e o meu cálice; tu és o arrimo da minha sorte.
16.6   Caem-me as divisas em lugares amenos, é mui linda a minha herança.
16.7   Bendigo o SENHOR, que me aconselha; pois até durante a noite o meu coração me ensina.
16.8   O SENHOR, tenho-o sempre à minha presença; estando ele à minha direita, não serei abalado.
16.9   Alegra-se, pois, o meu coração, e o meu espírito exulta; até o meu corpo repousará seguro.
16.10   Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.
16.11   Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente.


Salmos

27.1   [Salmo de Davi] O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O SENHOR é a fortaleza da minha vida; a quem temerei?

27.2   Quando malfeitores me sobrevêm para me destruir, meus opressores e inimigos, eles é que tropeçam e caem.
27.3   Ainda que um exército se acampe contra mim, não se atemorizará o meu coração; e, se estourar contra mim a guerra, ainda assim terei confiança.
27.4   Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do SENHOR e meditar no seu templo.

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CATECISMO DHEIDELBERG

Os Dez Mandamentos

Dia do Senhor 34

P.92. O que diz a lei de Deus?
R. “Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. 
1. Não terás outros deuses diante de mim.
2. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.
3. Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, por- que o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.
4. Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou.
5. Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá.
6. Não matarás. 
7. Não adulterarás. 
8. Não furtarás. 
9. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. 
10. Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo”.1
1. Ex 20.1-17; Dt 5.6-21.
P.93. Como estão divididos estes mandamentos?
R. Em duas partes. A primeira nos ensina como viver com relação a Deus; a segunda, que deveres temos para com o nosso próximo.1
1. Mt 22.37-40.
P.94. Que exige o SENHOR no primeiro mandamento?
R. Que, por amor a minha salvação, devo evitar e fugir de toda idolatria,1 feitiçaria, superstição2 e invocação a santos ou a outras criaturas.E que devo reconhecer corretamente ao único e verdadeiro Deus,4 confiar somente nEle,5 submeter-me a Ele em toda humil- dade6 e paciência,7 só dEle esperar todo o bem,8 e que devo O amar,9 temer10 e honrar11 com todo o meu coração. Em resumo: é preferível repudiar a todas as criaturas a fazer qualquer coisa, mínima que seja, contra a Sua vontade.12
1. 1Co 6.9, 10; 10.5-14; 1Jo 5.21. 2. Lv 19.31; Dt 18.9-12. 3. Mt 4.10; Ap 19.10; 22.8, 9. 4. Jo 17.3. 5. Jr 17.5, 7. 6. 1Pe 5.5, 6. 7. Rm 5.3, 4; 1Co 10.10; Fp 2.14; Cl 1.11; Hb 10.36. 8. Sl 104.27, 28; Is 45.7; Tg 1.17. 9. Dt 6.5; (Mt 22.37). 10. Dt 6.2; Sl 111.10; Pv 1.7; 9.10; Mt 10.28; 1Pe 1.17. 11. Dt 6.13; (Mt 4.10); Dt 10.20. 12. Mt 5.29, 30; 10.37-39; At 5.29.
P.95. O que é idolatria?
R. Idolatria é ter ou inventar algo em que colocar a nossa confiança em lugar ou ao lado do único e verdadeiro Deus que se revelou em Sua Palavra.1
1. 1Cr 16.26; Gl 4.8, 9; Ef 5.5; Fp 3.19.