Texto: Dia do Senhor 32
Leitura: Mateus 7.15-23
Amada
Congregação do Senhor Jesus Cristo,
Na
época da Reforma os reformados foram pichados de promoverem falso ensino e a
libertinagem. Se a justificação é pela fé somente, então, por que devemos
praticar boas obras?
Os
reformados se defenderam ensinando a doutrina sobre nossas boas obras: As
nossas boas obras não são o meio para alcançarmos salvação. As boas obras têm
um triplo propósito:
Primeiro, para o louvor
da glória de Deus.
Segundo, para nos confirmar
a nossa fé.
Terceiro, para conduzir
nossos próximos para Cristo.
Por
causa dessas três propósitos devemos praticar as boas obras.
Jesus
falou muito sobre boas obras. Ele nos ensinou sobre as boas obras usando a
ilustração vinda da agricultura, Jesus falou de árvore e frutos para se referir
aos homens e as suas obras. Jesus disse: “A
boa árvore produz bons frutos”: Fruto que louva a Deus. Fruto que confirma a
nossa fé. Fruto que conduz o próximo a Cristo. Esse é o tema de nossa
pregação.
Amados
irmãos e irmãs, o nosso Salvador nos chamou a tomarmos cuidado com falsos
profetas. As vestes desses falsos profetas era a hipocrisia. Eles se
apresentariam como ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.
Então,
os discípulos não deveriam prestar atenção na aparência de piedade daqueles que
se colocavam como mestres, ou profetas do povo. Os discípulos deveriam estar
atentos às obras deles, pois Jesus disse: “pelos frutos os conhecereis” (Mateus
7.16). Jesus continuou falando (vs. 17-19): “Assim, toda a árvore boa produz
bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa
produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons.”
Jesus
é muito prático. Jesus não rodeou para nos dizer como devemos identificar quem
é profeta de Deus ou não, servo de Deus ou não: As obras mostram o que há
dentro da gente!
Não
adianta palavras de louvor a Jesus e confissões que louvam a Jesus, tais como:
SENHOR, SENHOR! (v.21). Essa expressão é um reconhecimento da glória de Jesus
como nosso Dono e Rei. Mas, somente a expressão não é suficiente para dizer que
vivemos debaixo do senhorio de Cristo. Jesus em outro lugar disse (veja Lucas
6.46): “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” A
obediência a vontade do Pai, as boas obras é quem testemunham se somos árvores
plantadas por Deus, se somos herdeiros do Reino de Deus. Pois, são as nossas
obras que mostram nossa gratidão e louvor verdadeiro ao Senhor. Por isso, o
nosso catecismo coloca o primeiro propósito das boas obras: louvar a Deus.
Assim
podemos dizer também que o testemunho de uma fé viva são as obras que
praticamos para Deus. Como sei se sou um filho de Deus? Somente por aquilo que
confesso? Não. A fé sem as obras é morta – diz a Escritura. A verdadeira fé é
viva, ela produz fruto de arrependimento. A fé verdadeira é aquela que atua
pelo amor (Galatas 5.6). Essa fé, como diz a Confissão Belga (Artigo 24), “leva
o homem a exercitar-se às obras que Deus ordenou em Sua Palavra.” Por isso, um
crente cheio de fé é um cristão cheio de pensamentos, de palavras e obras que louvam
a Deus, pois “... Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má
produzir frutos bons.” Por isso, o catecismo coloca o segundo propósito das
boas obras, dizendo que devemos praticar boas obras “para que tenhamos a
certeza da nossa fé por causa dos seus frutos. Sendo assim, boas obras servem
para confirmar a nossa fé.
O
outro propósito das nossas boas obras é dito no Catecismo: “para que... pelo
novo viver piedoso possamos ganhar os nossos próximos para Cristo”. Jesus,
antes de falar como devemos identificar os falsos profetas, disse (Mateus 5.16):
“Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas
boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”. Viver piedoso é viver
no temor e na obediência ao Senhor. É o viver piedoso que faz brilhar a luz de
Cristo em nós. Essa luz que os homens podem ver e glorificar a Deus. As boas
obras são sinais desse viver piedoso. Portanto, pecados praticados por crentes obscurecem
a luz de Cristo neles, trazem escândalos, afastam pessoas de Cristo e matam
nosso próximo. O contrário é verdadeiro. Uma vida piedosa, de boas obras,
edifica a igreja e comunica o evangelho ao nosso próximo. Vejam a instrução de
Jesus: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”. Notem a
instrução de Paulo aos irmãos em Roma (Romanos 14.17-19). A liberdade cristã
deve gerar edificação a igreja e trazer pessoas ao Reino de Deus. Em outro
lugar da Escritura, as mulheres da congregação são chamadas a viverem
piedosamente diante de seus maridos descrentes (1 Pedro 3.1,2). Essas passagens
mostram o terceiro propósito das boas obras: “... que pelo novo viver piedoso
possamos ganhar os nossos próximos para Cristo”.
Agora,
o Catecismo encerra o DS 32 deixando claríssimo que a justificação pela fé não
infunde nos impenitentes e hipócritas a esperança de salvação (veja P e R 87). Esse
ensino é conforme ao que Jesus disse em Mateus 7.19: “Toda árvore que não
produz fruto bom é cortada e lançada ao fogo”. Jesus não dá esperança de
salvação aos falsos profetas, aos pecadores impenitentes e aos hipócritas.
Jesus
não é enganado por aquilo que falamos. Ele não olha para as nossas bocas
somente. Jesus olha para o nosso coração, para as nossas palavras e para nossas
obras. Por isso, aqueles que vivem em pecado e amando o pecado, mesmo dentro da
igreja, mesmo que tenham ensinado e até operado milagres em nome de Cristo,
ouvirão de Cristo (Mateus 7.23): “... nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os
que praticais a iniquidade”. Jesus fala de “iniquidade”. Fala de pecado contra
a Lei de Deus. Jesus fala contra aqueles que vivem como se não houvesse a lei,
quebrando os mandamentos do Senhor. Não há esperança para esses tais se não se
arrependerem e buscarem a salvação somente em Cristo Jesus.
Não
adianta religiosidade sem verdadeira fé. A verdadeira fé não nos deixa satisfeitos
no pecado. Por isso, somente aqueles que não têm a verdadeira fé viverão
acomodados nos seus pecados, não abandonarão o modo de viver ingrato e
impenitente, não se convertendo a Deus. O catecismo lembra as palavras do Espírito
Santo escritas por Paulo (1ª Coríntios 6.9,10). Assim, o Catecismo encerra com
essa verdade alertando os hipócritas e impenitentes a não terem esperança de
salvação, enquanto, estiverem acomodados no pecado.
Conclusão:
Amados
irmãos e irmãs, lembremos o ensino de nosso gracioso Salvador, Jesus Cristo: “A
boa árvore produz bons frutos”. Esse ensino não é para a segurança de nossa
salvação em Cristo. O ensino é para desmentir a mentira que a justificação pela
fé estimula a libertinagem.
Essa
doutrina é para nos estimular a desenvolver a nossa salvação que Cristo Jesus
conquistou para nós. A salvação que recebemos por pura graça. A promessa de
Deus no Evangelho é: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para
boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”,
Efésios 2.10. Quando buscamos andar em boas obras é porque entendemos que Deus
nos salvou por pura graça e reconhecemos que somos obras de Deus em Cristo.
Quando andamos em boas obras fazemos a vontade de Deus, pois estas obras foram
preparadas por Ele para que andássemos nelas.
O
ensino de Jesus produz temor santo no coração dos Seus eleitos. A instrução de
Cristo produzirá o desejo deles produzirem mais obras que louvam a Deus, que
confirmam neles a verdadeira fé e que levam pessoas a Jesus Cristo.
Mas,
os hipócritas e aqueles que querem viver em seus pecados se incomodarão com o
ensino de Jesus acerca da necessidade das boas obras. Eles continuarão em seus
pecados e na hipocrisia deles. Mas, o dia virá que conheceremos claramente aqueles
que pertencem a Deus. O Dia quando Jesus dirá aos seus amados servos, aqueles
que durante suas vidas confiaram somente em Jesus e viveram para o louvor a
Deus: Vinde a mim benditos de meu Pai! Mas, no Dia do Juízo também veremos os
hipócritas e impenitentes ouvindo a dura sentença de Jesus: “Nunca vos conheci.
Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade! Naquele dia Jesus cortará e
lançará no fogo as árvores más.
Portanto,
amados irmãos, como diz a forma da Santa Ceia, façamos o autoexame, para vermos
se temos em nós “a intenção sincera de mostrar a Deus a sua gratidão por uma
vida dedicada a Ele”. Do mesmo modo, mostremos que estamos resolvidos “a amar o
próximo e deixar toda a hipocrisia, inveja, inimizade e raiva”. Façamos esse
autoexame com confiança na promessa do evangelho da graça de Deus, pois, “A boa árvore produz bons frutos”: Fruto que louva a
Deus. Fruto que confirma a nossa fé. Fruto que conduz o próximo a Cristo.
Encerremos esse sermão lendo o Artigo 24 de nossa confissão de fé.
Sermão preparado pelo
Rev. Adriano Gama sobre a doutrina bíblica ensinada no Catecismo de Heidelberg,
Dia do Senhor 32.
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CATECISMO DE HEIDELBERG
Parte III A NOSSA GRATIDÃO
P.86. Se fomos libertados da nossa
miséria somente pela graça através de Cristo, sem nenhum mérito nosso, por que
então devemos praticar boas obras?
R. Por que Cristo, tendo nos remido
pelo Seu sangue, também nos renova por Seu Espírito Santo à Sua imagem para
que, com toda a nossa vida, mostremo-nos gratos a Deus por Seus benefícios1 e para que Ele seja louvado por nós.2 Além disso, para
que tenhamos a certeza da nossa fé por causa dos seus frutos,3 e que pelo novo viver piedoso possamos ganhar os nossos próximos para
Cristo.4
1. Rm 6.13;
12.1, 2; 1Pe 2.5-10. 2. Mt 5.16; 1Co 6.19, 20. 3. Mt 7.17, 18; Gl 5.22-24; 2Pe
1.10, 11. 4. Mt 5.14-16; Rm 14.17-19; 1Pe 2.12; 3.1, 2.
P.87. Podem ser salvos aqueles que
não abandonam o modo de viver ingrato e impenitente e não se convertem a
Deus?
R. Não, de modo nenhum. A
Escritura diz que nenhum impuro, idólatra, adúltero, ladrão, avarento, bêbado,
maldizente, assaltante ou semelhante herdará o reino do céu.1
1. 1Co 6.9, 10; Gl 5.19-21; Ef 5.5,
6; Jo 3.14.
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CONFISSÃO BELGA
ARTIGO
24
A nossa
santificação e as boas obras
Cremos que esta
fé verdadeira operada no homem pelo ouvir da Palavra de Deus e pelo agir do
Espírito Santo,1 regenera-o e torna-o um novo homem;2 faz com que viva
uma vida nova e o liberta da escravidão do pecado.3 Por isso não é
verdade que essa fé justificadora o torna indiferente para viver uma vida santa
e boa.4 Ao contrário, sem ela ninguém jamais poderia fazer nada por amor
a Deus,5 mas somente por amor a si mesmo ou por medo da condenação. É,
portanto, impossível que essa fé santa seja inoperante no homem, porque não
falamos de uma fé vã, mas da que a Escritura chama de “a fé que atua pelo amor”
(Gl 5.6). Esta fé leva o homem a exercitar- se às obras que Deus ordenou em Sua
Palavra. As boas obras, que procedem da boa raiz da fé, são boas e aceitáveis à
vista de Deus, porque são todas santificadas pela Sua graça. Apesar disso elas
não cooperam para a nossa justificação, porque é pela fé em Cristo que somos
justificados, antes mesmo de fazermos quaisquer boas obras.6De outro modo essas obras não pode- riam ser boas, assim como o
fruto da árvore não pode ser bom, se a árvore não for boa.7
Por isso que
praticamos boas obras, não para termos mérito; pois, que mérito podemos ter?
Antes, somos devedores a Deus pelas boas obras que praticamos,8 e não Ele a nós,
“por- que Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a
sua boa vontade” (Fp 2.13). Tenhamos sempre em mente o que está escrito: “Assim
também vós, depois de haver- des feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos
servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc 17.10). Contudo,
não negamos que Deus recompensa as boas obras,9 mas é pela Sua
graça que Ele coroa os Seus dons.
Além disso,
embora pratiquemos boas obras não baseamos nelas a nossa salvação. Pois nada
podemos fazer, por míni- mo que seja, que não o contaminemos com a nossa carne
e que não seja digno de punição.10 Ainda que
pudéssemos apresentar uma única boa obra, a mera lembrança de um único pecado
bastaria para Deus a rejeitar.11 Assim, estaríamos sempre em dúvida, lançados de uma lado para o
outro sem certeza alguma e com as nossas pobres consciências sempre
atormentadas se não confiássemos no mérito do sofrimento e da morte do
nosso Salvador.12
1. At 16.14; Rm 10.17; 1Co 12.3. 2. Ez
36.26, 27; Jo 1.12, 13; Jo 3.5; Ef 2.4-6; Tt 3.5; 1Pe 1.23. 3. Jo 5.24; Jo
8.36; Rm 6.4-6; 1Jo 3.9. 4. Gl 5.22; Tt 2.12. 5. Jo 15.5; Rm 14.23; 1Tm 1.5; Hb
11.4, 6. 6. Rm 4.5. 7. Mt 7.17. 8. 1Co 1.30, 31. 1Co 4.7; Ef 2.10. 9. Rm 2.6, 7;
1Co 3.14; 2Jo .8; Ap 2.23. 10. Rm 7.21. 11. Tg 2.10. 12.
Hc 2.4; Mt 11.28; Rm 10.11.
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Texto Bíblico:
Mateus 7.15-23
7.15
Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em
ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.
7.16
Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros
ou figos dos abrolhos?
7.17
Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos
maus.
7.18
Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos
bons.
7.19
Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
7.20
Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.
7.21
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele
que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
7.22
Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós
profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome
não fizemos muitos milagres?
7.23 Então, lhes direi
explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a
iniqüidade.
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